Editorial | The Fame Issue, outubro 2023

Georgina Rodríguez
Branislav Simoncik

Cada época é definida sobretudo pelos seus valores e preocupações, que só se conseguem entender através da história. O século XVIII foi caracterizado por conversas sobre conhecimento e liberdade. O século XIX estava obcecado pelo progresso e, no século XX, as pessoas ainda estavam a tentar processar o caos provocado pelo progresso. Não ficaria surpreendida se os futuros historiadores olhassem para o nosso século como sendo moldado por uma obsessão pela fama. O século que começou com uma explosão de reality shows e onde, hoje, cada um de nós tem um estúdio cinematográfico/laboratório fotográfico no bolso.

Georgina Rodríguez
Branislav Simoncik

Sobre os famosos quinze minutos de fama, já Marco Aurélio, imperador romano, refletia: “Os feitos que antes nos deram fama perdem-se rapidamente, à medida que a atenção dos outros é atraída para outro lugar.” Já na sua época era verdade, mas na nossa, a fama é seguramente ainda mais efémera. Hoje em dia a janela da fama é mais curta, obscurecida rapidamente pelo fluxo interminável e ininterrupto de notícias, de dramas nas redes sociais, de novos famosos. E se num momento alguém quer ser a pessoa mais famosa do mundo, no outro quer desesperadamente viver longe dos holofotes dessa fama, porque a verdadeira liberdade vive no anonimato. O caminho para o sucesso não é apenas feito de aplausos e elogios, também está pavimentado por pessoas que julgam e odeiam. A fronteira entre o lado glamouroso e o lado obscuro da fama é muito ténue. “Don’t expect praise without envy — until you're dead.”

Cintia Dicker
Ricardo Abrahao

Sempre existiu uma noção cultural de que o valor e o valor pessoal são o resultado das realizações de alguém, daí a obsessão com o que devemos fazer quando crescermos, em vez de nos preocuparmos com quem somos agora e como gostaríamos de fazer alguma diferença no mundo. Pode-se ser famoso hoje, mas ninguém sabe o que o amanhã glorifica. Muitos foram adorados por milhões de fãs em determinado momento. Mas hoje em dia ninguém se lembra de quem foram ou o que fizeram. Quando mesmo as estrelas do passado não deixam um legado na história, que hipóteses tem o comum dos mortais? Todas. Nada nem ninguém pode impedi-lo de brilhar se tiver a sua própria luz. Uma estrela não é homenageada pelo seu tamanho, mas pela intensidade do brilho que emana, e o nosso legado, muito mais do que a fama, é a forma como tocamos os outros como seres humanos.

Paulina Porizkova
Branislav Simoncik

P.S. Durante o fecho desta edição, a Vogue celebrou os 20 anos em Portugal com a Vogue Iconic Party. Reunimos todos os colaboradores, parceiros, amigos e alguns dos leitores que fazem parte desta história. Obrigada a todos os que estiveram presentes, ao longo destes 20 anos e desta celebração. Obrigada ao José Santana, o criador desta Vogue City, à família Lighthouse, e a todos os que tornaram este evento icónico possível.

Maria Borges
Branislav Simoncik

Publicado originalmente no The Fame Issue, de outubro 2023. For the English Version, click here.