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Inês Manuel Baptista e Maria Carlos Baptista: A nova promessa da Moda portuguesa

16 Mar 2022
By Mariana Silva

Inês venceu o Sangue Novo, Maria venceu o Bloom. E agora unem forças numa coleção conjunta.

Inês venceu o Sangue Novo, Maria venceu o Bloom. E agora unem forças numa coleção conjunta.

'Arquétipo', de Maria Carlos Baptista
'Arquétipo', de Maria Carlos Baptista

Irmãs, com percursos diferentes, mas com histórias cujo destino acabou por aproximar. Inês Manuel Baptista e Maria Carlos Baptista são dois dos nomes que emergiram nos últimos tempos no panorama da Moda nacional, tendo vindo a apresentar-se como um talento promissor. 

Desde que venceu o concurso de jovens designers, Sangue Novo, Inês tem vindo a apresentar as suas coleções na ModaLisboa, ao mesmo tempo que usufruía do seu prémio: um Mestrado na escola de Moda italiana, Polimoda. Maria venceu o Bloom, a plataforma de novos talentos patrocinada pelo Portugal Fashion, e não só ganhou um espaço no calendário oficial deste evento, como apresentou duas das suas coleções na Semana de Moda parisiense, em março e outubro de 2021. 

A poucos dias da edição de outono/inverno 2022 do Portugal Fashion, onde as designers irão, pela primeira vez, apresentar uma coleção conjunta, a Vogue Portugal conversou com as duas para saber mais sobre o seu progresso e sobre tudo o que nos espera. 

Como foi o vosso percurso até chegar à Moda? Foi algo planeado e linear ou tiveram de enfrentar alguns obstáculos pelo caminho?

Inês: No meu caso não foi planeado, a moda surgiu na minha vida como reforço a um período de transição, no qual senti a necessidade de mudar drasticamente de ocupação, de rotina e foco. Cresci com o sonho de ser bailarina, tive aulas e leccionei por muitos anos, a par licenciei-me em História da Arte. No entanto, surgiu um momento em que senti que queria mais e foi então que decidi arriscar. Sendo a criatividade a minha força motora, percebi que na moda havia espaço para me expressar e a verdade é que este caminho tem vindo a fazer cada vez mais sentido.

Maria: Eu tinha como objectivo ser bailarina. Anteriormente frequentei a licenciatura em Dança em Lisboa, da qual tive de abdicar por ter tido uma lesão. A moda apareceu como uma nova forma de poder materializar as minhas ideias, dando corpo e criando movimento de outra forma.

As duas já venceram um concurso de jovens designers. A Maria venceu o Bloom, do Portugal Fashion, e a Inês o Sangue Novo, da ModaLisboa. Decidiram em conjunto que se iam candidatar? E como reagiram face à vossa própria vitória e à vitória da outra?

Inês: Comigo foi algo que aconteceu naturalmente, sempre gostámos de desafios e a partir do momento que decidimos dedicar-nos a fundo e percebemos que era este o caminho a seguir, ambas achámos que faria sentido encarar uma oportunidade destas mais cedo ou mais tarde e assim que ela surgiu decidimos propor-nos. A Maria é, sem dúvida, a mais empreendedora das duas, e foi ela a maior impulsionadora da nossa candidatura ao Sangue Novo, na qual acabei eu por sair a vencedora. Contudo, sempre a alertei que o momento dela acabaria por chegar, e coincidência ou não, um ano depois é ela vencedora no concurso Bloom. 

Quanto a vitórias, fiquei surpreendida com a minha, encarei a competição com descontração mas com muito foco na minha aprendizagem e evolução e acho que isso me ajudou, encarei o desafio como um novo pretexto para me desafiar. A vitória da Maria não foi um surpresa, tive a oportunidade de acompanhar todo o desenvolvimento da coleção que apresentou, o esforço foi reconhecido e o resultado mais que merecido.

Maria: Quando comecei a estudar moda, tinha-me colocado esse desafio e objectivo, de participar numa das plataformas para jovens designers a nível nacional, por isso foi uma sensação de missão cumprida. Aconteceu naturalmente, acho. Candidatámo-nos as duas ao Sangue Novo, na edição da qual a Inês foi vencedora. E com muito orgulho digo que fui a pessoa que mais insistiu com a Inês para ela participar, sempre lhe disse: “vais participar e vais ganhar”. E assim foi. Acho que foi mais uma meta pessoal atingida e nós sempre fomos extremamente trabalhadoras e focadas no que fazemos, e tendo ficado a dança de parte e termos escolhido outro rumo, foi muito desafiante e gratificante. Foi um degrau que se subiu e que dá sempre mais força.

Desde esse momento até hoje, já tiveram um percurso na Moda recheado de surpresas. Qual foi a experiência que mais vos marcou desde que foram declaradas vencedoras dos concursos de jovens designers?

Inês: No meu caso foi, sem dúvida, o prémio que me levou até Florença. A minha passagem pela Polimoda foi inesquecível, tive a oportunidade de usufruir de uma excelente escola, trocar conhecimento e trabalhar a par com designers cuja realidade e backgrounds eram completamente diferentes e isso foi muito enriquecedor. Aqueles 9 meses foram o impulso e o reforço que precisava, regressei com a certeza de que estou no caminho certo e eternamente grata à ModaLisboa pela oportunidade. Marcou-me também a evolução pela qual a Maria passou nessa minha ausência, no foco que manteve e nas oportunidades que fez por chegar até ela. 

Maria: Para mim foi sem dúvida estar nos bastidores do Sangue Novo e ouvir que a minha irmã ganhou e agora, em outubro, ter apresentado uma coleção em Paris e ter ido de seguida ter com a Inês a Florença para assistir à cerimónia de fim do Mestrado dela na Polimoda.

E, agora, tendo em conta que estavam a ter bastante sucesso individualmente, o que vos motivou a unir forças?

Inês: Sempre acompanhámos de perto o caminho uma da outra mas dado que, quando começámos, o nosso foco era a nossa formação, não houve a oportunidade de nos focarmos num projeto comum. Achámos por bem termos percursos diferentes, explorarmos a nossa própria realidade e desenvolvermos capacidades de forma individual com o foco em evoluirmos enquanto designers. Acho que esta colaboração era algo que iria acabar por acontecer mais cedo ou mais tarde, até porque, dada a natureza “solitária” do processo que envolve a realização de uma coleção, a necessidade de uma partilha era inevitável, ainda para mais numa fase em que sentimos que já tivemos oportunidade de nos desafiar individualmente, a vontade em cruzar ideias surgiu naturalmente e o que estava para ser a próxima coleção da Maria acabou por se tornar na nossa primeira coleção juntas.

Maria: Acho que é mais um desafio, nós estamos sempre a procurar aprender mais e a criar novas metas. Já tínhamos tido a experiência de trabalhar juntas enquanto dávamos aulas de dança, e sempre houve um bom complementar de energias. Temos personalidades muito diferentes e muito fortes, pelo que somos um bom equilíbrio uma para a outra. E foi testar essa capacidade de trabalho de equipa, mas agora noutra área.  Desde sempre que admirei imenso a minha irmã e a realidade criativa dela, tendo a oportunidade de a ter como irmã há 30 anos faz com que eu saiba o "génio que tenho em casa". Sempre que achei que juntas faria sentido, nem o faria com outra pessoa. A Inês é das poucas pessoas que me faz questionar ideias fixas que possa ter e dar-lhes novo rumo, e acho que aprendo muito com ela sempre.

Como foi o processo de criar uma coleção conjunta? Seguem estéticas semelhantes ou foi difícil conjugar os vossos dois estilos?

Inês: Confesso que foi mais desafiante do que estava à espera, apesar de já termos trabalhado juntas noutras áreas no passado, esta partilha foi muito efusiva e oscilante mas muito compensadora. Aprendi a ser mais flexível, a olhar a criatividade pelos olhos dela de forma a conseguir entre-cruzá-la com a minha, é muito fácil perder-me no meu próprio mundo e a Maria trouxe-me à realidade constantemente, foi uma dança interessante, começámos a ritmos diferentes mas acabámos em sintonia e esperamos que isso se reflita no trabalho que vamos apresentar. 

Maria: Foi super desafiante, temos mesmo personalidades muito fortes, e como estivemos um ano afastadas, foi interessante ver como funcionamos as duas juntas, numa área nova na qual ainda não tínhamos trabalhado a par. Temos mundos semelhantes moldados por experiências a par, mas é engraçado ver a forma como nos desenvolvemos e crescemos e a leitura que fazemos do mundo e a forma como representamos as nossas ideias. É um processo muito giro porque aprendemos muito sobre nós e sobre o outro, tanto sobre valores como processos de criação. E é uma realidade muito solitária ser designer de moda, e podendo ter com quem partilhar, não pensava duas vezes com quem o faria.

O que nos podem contar sobre a coleção que irão apresentar no Portugal Fashion nos próximos dias? Qual foi a grande inspiração e o que pretendem retratar através dos coordenados?

Inês: A coleção acabou por espelhar a nossa relação, tempestuosa, energética e cheia de força. É o resultado claro de um esforço conjunto e da reciprocidade que nos corre nas veias, conta a história em que uma reflete a energia a outra. 

Maria: A coleção foi uma pequena grande surpresa, acabou por acontecer naturalmente, e as decisões e escolhas que tínhamos, que inicialmente nem conseguíamos justificar, foram surgindo naturalmente. Acho que toda a história e conceito sempre lá esteve, mas em vez de sermos nós a escrevermos, foi ele que se foi revelando. É uma coleção que sem querer trouxe muito de nós e nos representa muito bem como dupla, que manifesta a nossa relação e fraternidade de alguma forma.

Mariana Silva By Mariana Silva

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