Beleza  

Da MAC para o Mundo: tudo o que importa saber sobre as tendências de maquilhagem atuais

09 Apr 2025
By Maria Inês Pinto

Gloss nos lábios, pele radiante e uma nova geração que não tem medo de arriscar: a MAC Cosmetics dita tendências com ousadia, diversidade e propõe uma reflexão interessante sobre o ritmo a que a indústria da beleza se move. Nesta conversa com Xabier Rodrigues, diretor artístico da marca em Portugal e Espanha, vamos até aos bastidores da criatividade e exploramos o passado, presente e futuro da arte da maquilhagem.

Mais do que prever tendências, a MAC Cosmetics participa ativamente na sua construção entre bastidores de passerelles internacionais, colaborações editoriais e o ritmo constante das redes sociais, onde tudo acontece à velocidade de um swipe. Xabier Lucena Rodrigues conta-nos a forma como a maquilhagem é criada, vivida e partilhada para ser uma expressão de atitude e individualidade, enquanto apresenta também as tendências de beleza para os meses quentes.

Como é que a MAC Cosmetics e os seus criativos antecipam as tendências de beleza?

Existem, sobretudo, duas vertentes no mundo das tendências. Uma delas - e é por isso que a MAC continua a ser uma referência - é o facto de estarmos presentes nas principais passerelles a nível mundial. Somos os primeiros a trabalhar com designers e equipas criativas, o que nos permite filtrar as tendências que se destacam nas passerelles e traduzi-las em algo digerível para o consumidor. [...] Esta é a via mais editorial, com uma abordagem mais aspiracional.

A segunda linha são as redes sociais. Antigamente, a informação circulava de forma mais lenta, mas hoje tudo viaja a uma velocidade enorme. [...] Assim, algumas tendências viralizam, sobretudo entre as novas gerações, que as recriam à sua maneira, adaptando-as à sua personalidade. O público que vê estas tendências através do ecrã do telemóvel acaba por digeri-las de uma forma diferente, mais intuitiva. [...] A base de tudo é o que acontece nos bastidores, nas passerelles e no mundo editorial, onde nascem realmente as tendências e, a partir daí, cabe às novas gerações ousar experimentá-las, reinterpretá-las e mostrá-las ao seu público, fazendo com que se tornem virais.

No fundo, o ponto de partida é sempre o trabalho real, com equipas criativas nos bastidores e, depois, o consumidor adapta essa informação à sua identidade - e é por isso que vivemos atualmente uma mudança muito rápida nas tendências. Antigamente, podiam passar décadas até vermos uma mudança significativa no estilo de maquilhagem - dos anos 10 para os 20, dos 20 para os 30, e assim sucessivamente. Hoje, graças à Internet e às redes sociais, tudo muda muito mais depressa [...].

Xabier Lucena Rodrigues, diretor artístico da marca em Portugal e Espanha

O ciclo acelerou-se e as tendências deixaram de durar décadas para durarem talvez um mês, dois, um ano... mas sempre com subtendências que surgem e alimentam as anteriores.

As tendências tornaram-se um consumo rápido, como uma espécie de fast food: vejo algo, quero experimentar, gosto ou não gosto, inspiro-me para criar algo novo [...]. O verdadeiro motor são as novas gerações: eles, elas, elus não têm medo de experimentar, são o verdadeiro palco onde se arrisca, onde se testa um novo look de maquilhagem ou se adapta uma moda de forma mais moderna e social. E por isso as tendências se alimentam e evoluem tão rapidamente.

Enquanto diretor artístico, já viu ressurgir uma série de tendências e hábitos de maquilhagem. O que gostaria que voltasse a estar em voga ou, por outro lado, preferia que deixássemos para trás?

Para mim, no que diz respeito a tendências, não há nenhuma que, enquanto pessoa criativa, ache que deva ser deixada de parte. No fim de contas, isto é um ecossistema de tendências, e todas têm algo a dizer. Dou o exemplo do contorno labial: há cerca de cinco ou seis anos, víamos isso em campanhas editoriais mas não na rua. E mesmo quando comecei a ver essa tendência [...] levava-me a questionar: é bonito? Gosto disto ou não gosto? E agora está por todo o lado - e eu adoro. No fim de contas, as tendências não se resumem a gostar ou não gostar. É como o paladar, educa-se: ou seja, à medida que vamos vendo as tendências, digerindo-as, vamos começando a aceitá-las e a integrá-las [...]. A raiz de uma moda pode parecer-nos mais ou menos atrativa, mas é uma semente que, mais tarde, floresce e nos permite ter possibilidades quase infinitas no momento de trabalhar a maquilhagem.

O que gostaria de ver mais no mundo da maquilhagem atual?

Gostava de ver mais cor. Cor para além dos tons acastanhados: cores vivas, texturas diferentes. Houve uma época, muito marcada pela série Euphoria, em que houve uma explosão de cor com aplicações, pérolas, brilhos, tudo era válido. Esse "boom" fez com que a maquilhagem fosse vista sob outra perspetiva, já não se tratava apenas de embelezar e realçar o melhor de nós, era sobre dizer algo com a maquilhagem, expressar-se, transmitir algo que queremos mostrar naquele momento. [...] Colocar um pouco de glitter, por exemplo, era algo que há uns anos não se fazia - só se via no mundo editorial ou no Carnaval, ponto final. As novas gerações começaram a brincar com isso e até gerações mais velhas começaram a experimentar este tipo de looks mais “arriscados”, usando-os ao fim de semana, numa noite, numa festa, mas os mais novos usavam-no todos os dias. 

Isto abriu um campo criativo muito importante. E, no entanto, parece que voltámos agora a uma sobriedade: estamos naquele momento anos 90 e inícios de 2000: neutros, nudes, terracotas, cinzentos - tons frios e quentes, mas todos dentro de uma paleta muito inspirada nos tons de pele, sobretudo nos castanhos. Gostava de ver um regresso a essa fase mais fantasiosa [...] e que tudo isso voltasse a ter força, para continuar a alimentar o mundo da maquilhagem e torná-lo ainda mais diverso e inclusivo.

Quais são as principais tendências de maquilhagem para esta primavera? Há alguma cor ou acabamento que se destaque?

Com este regresso aos anos 90, os acabamentos glossy e com brilho estão com muita força. Já há uma temporada que isto está a acontecer, mas se repararmos, houve uma altura em que o efeito gloss nos lábios foi completamente esquecido. Passámos por uma fase de batons mate, com mais ou menos brilho, mas nunca aquele efeito gloss pegajoso nos lábios. Eu prevejo - ou acho, porque também não tenho uma bola de cristal - que o gloss vai voltar em força, com todos esses acabamentos cristalinos, com aspeto envernizado nos lábios. 

O packaging também terá um grande protagonismo. Porquê? Porque, antes, queríamos durabilidade, ou seja, queríamos que a maquilhagem durasse, especialmente nos lábios: aplicávamos um batom e queríamos que ficasse o dia todo, sem termos de o retocar. No caso do gloss - mesmo que possa haver versões de longa duração -, vai sempre sair mais depressa. Então, esse momento em que tiramos um gloss da mala e o aplicamos com um espelho, num espaço público, está a tornar-se uma espécie de símbolo de estatuto. É como dizer: “Olha, ela está a usar MAC “e está a aplicar este gloss lindíssimo, olha como brilha, como lhe fica bem.” É uma espécie de arranjar-se em público que cria esse efeito de desejo, digamos. E por fim, como não podia deixar de ser, com o regresso do bom tempo temos sempre os momentos bronzeados, com aquele efeito “sunkissed”. Claro que haverá uma reinvenção, estou certo disso, e [a tendência] virá com um elemento diferenciador em relação aos anos anteriores.

Esse momento em que tiramos um gloss da mala e o aplicamos com um espelho, num espaço público, está a tornar-se uma espécie de símbolo de estatuto.

E que cores se destacam nesta primavera?

No que toca à pele, tons alperce, pêssego, framboesa, beringela, avermelhados. Todos estes tons que encontramos na mucosa da pele (na parte mais interna do lábio) que remetem ao sangue, a essas cores mais intensas que existem naturalmente dentro da nossa própria paleta de tons de pele. A ideia é potenciar estas cores e levá-las a outras zonas do rosto para criar esse efeito de pele beijada pelo sol, ligeiramente queimada, como se estivesse estado numa esplanada, numa piscina ou na praia durante algum tempo, ganhando aquele tom ligeiramente queimado nas zonas mais elevadas do rosto. 

Depois, há também momentos de sombras e cores de batons inspirados nestes tons: terracota, castanhos escuros, avermelhados. [...] Os castanhos têm um grande potencial, mas tons com tendência para o quente, não tão frios.

Para quem quer atualizar a sua rotina de maquilhagem para a primavera, quais são os produtos indispensáveis?

Gloss, bronzer e iluminadores - e quando falo de iluminadores e bronzers, refiro-me a texturas diferentes: podem ser em pó, líquidos, em creme…No fim de contas, o que procuramos é esse efeito saudável na pele, sem parecer transpirada, digamos. Houve uma altura, há alguns anos, em que se procurava aquele efeito glow excessivo, uma pele extremamente húmida (dewy), que transmitia uma sensação de saúde, sim, mas que também parecia indicar que a pele estava oleosa ou transpirada. Agora procuramos isto de uma forma muito mais equilibrada e integrada na pele, para que pareça que foi bem cuidada, mas sem aquele excesso de brilho visível no rosto.

O acabamento mate vai regressar finalmente?

Houve um momento em que o glow dominava, e esse momento foi muito inspirado na cultura coreana. Por causa disso, os produtos em pó foram sendo deixados um pouco de lado nos últimos tempos, em favor desse efeito de pele brilhante, saudável, luminosa - como se a própria pele emitisse luz de forma natural. Continuaremos a ver esta tendência mas de forma mais equilibrada [...] e vai coexistir com outras. O acabamento mate vai regressar, sim - e em força - e prevejo isso para o final deste ano ou do próximo. [...] O que está a acontecer agora é que estas duas tendências, apesar de antagonistas, estão a equilibrar-se. Cada uma está a encontrar um ponto médio, onde possam coexistir: ou seja, o mate já não será tão mate, e o glowy já não será tão glowy. Estamos a caminhar para um momento de equilíbrio.

A MAC lançou recentemente a sua coleção de nudes, que teve um impacto gigante nas redes sociais. Porque é que o mercado precisava de uma coleção como esta?

Os nudes sempre existiram e sempre existirão, são passado, presente e futuro - vão continuar sempre a fazer parte da maquilhagem. Mas é verdade que os anos 90 e 2000 foram o auge dos batons nude, graças às top models da altura e ao estilo de maquilhagem que se usava então. Então, por que razão a MAC lançou uma gama de nudes? Porque, apesar de já existirem nudes no mercado, não existia uma variedade tão grande de tons que se relacionassem verdadeiramente com cada pessoa. Aqui, vamos ao mote da campanha sob a qual a MAC lançou esta gama de nudes: It’s PersonalAntes, víamos uma modelo, uma amiga, alguém a usar um nude bonito e pensávamos: “Quero esse!”, tirávamos uma foto, íamos comprar… e depois odiávamos, porque não ficava igual. Foi por isso que a MAC criou uma gama amplíssima de nudes, para que voltássemos àquela experiência de ir à loja, experimentar, perceber se gostamos, se nos identificamos com aquele tom. [...] Regressamos a esse momento de sair de casa, ir até à loja, experimentar: não apenas testar na mão, mas aplicar nos lábios, ver como resulta. E é por isso que esta coleção se insere no conceito It’s Personal. [...] É verdade que há muitas marcas com batons nude, mas não tantas com uma variedade tão grande como a MAC, garantidamente: tem a gama mais ampla de tons nude do mercado, pensada para todas as tonalidades de pele no mundo. Não apenas para peles brancas, também para peles negras, asiáticas, com subtons diferentes e pensada para toda a gente, para que qualquer pessoa possa encontrar o seu nude ideal sob este lema: “Experimenta, vais encontrar.”

Há alguma regra para encontrar o subtom na perfeição?

Existem imensos truques em revistas (como o truque de apertar o dedo), mas aqui a teoria não existe. [...] Digo sempre isto: uma coisa é a teoria da cor, outra coisa é a personalidade de cada um. Enquanto profissional, posso aconselhar um tom que, tecnicamente, fica bem a essa pessoa [...], mas se a pessoa não se sentir ligada a essa cor, não se vai sentir confortável, por muito que os outros digam que está bonita. [...] Aqui, a teoria da cor, os truques, não fazem sentido, porque a maquilhagem se relaciona muito com a personalidade, e a forma como cada um se vê ao espelho é das coisas mais pessoais e subjetivas que existem. O ponto de vista mais importante tem de ser o seu - não o do maquilhador, nem da amiga, nem da mãe, nem da irmã, nem de ninguém. Só interessa que a pessoa experimente aquela cor e diga: “Gosto disto.” Mesmo que os outros digam que te fica mal - se gosta, compre.

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