Entrevistas   Moda  

Glenn Martens e Damiano David ensinam-nos a ser sexy

18 Nov 2024
By José Criales-Unzueta

Cortesia da Diesel

Desde que a Diesel partilhou, em junho, a notícia de que Damiano David, o cantor italiano conhecido pelo seu estilo sensual e irreverente, iria assumir o papel de primeiro embaixador masculino, muita coisa mudou para o vocalista dos Måneskin e para o porta-voz da marca, Glenn Martens.

Martens anunciou a sua saída da Y/Project em setembro e está agora a concentrar todos os seus esforços na Diesel (e numa coleção cápsula com a H&M que acaba de ser anunciada e cujo lançamento está previsto para 2025). David está também a redirecionar a sua energia: lançou uma carreira a solo com uma atuação no programa Tonight Show Starring Jimmy Fallon, na qual estreou um visual totalmente novo. Os dois juntaram-se recentemente para criar uma coleção cápsula para a Diesel, que reflete a estética de ambos: é sexy, atrevida e pensada para uma nova geração.

Se, antes da pandemia, o look da Geração Z era ambíguo e difícil de definir, quase cinco anos depois, e com a ajuda de talentos como David e Martens, está completamente indexado: o estilo de hoje é agnóstico em relação ao género, empodera o corpo, quebra as regras, é arrojado e, acima de tudo, é livre.

“Trata-se de projetar uma energia de autoconfiança, poder e aquilo a que chamamos ‘coolness’”, diz David. “O carisma é o que torna as pessoas atraentes, sensuais e interessantes” David e Martens falam sobre o início da sua relação criativa, a sua visão comum da Moda e do género, e como reproduziram as tatuagens do cantor numa blusa no estilo segunda pele. Numa conversa para ler abaixo, os dois criativos partilham também uma dica para nos sentirmos sexy na nossa própria pele. (Ou na de David, caso a ideia de usar as suas tatuagens seja entusiasmante).


Cortesia Diesel

Como é que se conheceram?

Glenn Martens: Sou viciado em trabalho, como podem imaginar, e a maior parte das vezes recorro aos meus clássicos – que, na música, seriam os Portishead ou os Massive Attack, bandas do meu tempo de adolescência. Não estou muito atualizado no que toca a música, por isso não descobri o Damiano dessa forma. Descobri-o porque ele estava sempre a usar Diesel de uma forma bastante sexy e, quando fui identificado nesse tipo de publicações por fãs, pensei: “Quem é esta pessoa que está sempre tão bem vestida?”. Depois descobri os Måneskin e apercebi-me que ele é mesmo muito bom e que a música é ótima.

Damiano David: A Diesel, como marca, esteve sempre presente na minha vida. A minha mãe, que é uma assumida fashion mom, ficou muito contente quando lhe disse que ia trabalhar nisto. Sempre foi uma grande fã e pediu-me para desenhar algo especificamente para ela, mas infelizmente não o fizemos. Durante o ano passado, houve uma altura em que eu praticamente só usava Diesel – antes de começarmos a trabalhar juntos – por isso foi espetacular quando a Diesel me contactou.


Cortesia da Diesel

Quando é que decidiu elevar o papel de embaixador de Damiano para o nível seguinte e criar uma coleção, ou foi sempre esse o objetivo?

Martens: Quando cheguei, há quatro anos, havia muito trabalho a fazer. Tínhamos de reestruturar a marca e voltar a encontrar o ADN da Diesel para reconstruir os seus valores. Era preciso definir uma pessoa para personificar a marca, esse era o principal objetivo. Nunca houve um momento em que pensámos verdadeiramente em ter um embaixador. No ano passado, quando a marca estava estabilizada, começámos a discutir a ideia. O conceito tinha de ser diversificado, autêntico e inclusivo, e não ser específico em termos de género. Quando o descobri, o Damiano pareceu-me ser a pessoa que melhor refletia essa forma muito livre e pessoal de viver a vida. É super talentoso e, claro, é muito bonito [risos], mas também tem muito a ver com respeito. Ele representa tantas pessoas diferentes numa só, o que é uma forma muito livre e carinhosa de ver a sociedade. 

Damiano, lembro-me de quando os Måneskin surgiram; não se tratava apenas da música, que as pessoas adoravam, mas também do seu estilo. Parecia sintonizado com o momento e representativo do rumo que a Moda estava a tomar. Estou curioso sobre o vosso percurso de estilo. O que acha do seu look desde que começou a tocar até hoje?

David: Sempre gostei de Moda e roupa, e sempre as vi como uma forma de me expressar e de fazer com que a minha imagem exterior correspondesse à ideia interior que tenho de mim próprio. Quero parecer cool todos os dias; sei que é um pensamento muito simples, mas acho que a Moda é isso mesmo. Quero vestir algo que, onde quer que vá, me dê confiança e um sentido de identidade que possa projetar para outras pessoas. A Diesel é a marca que faz isso melhor, por isso acho que a nossa colaboração estava escrita nas estrelas.


Cortesia da Diesel

A coleção tem um aspeto genderless. Faz sentido, tendo em conta o visual de Damiano e os designs de Glenn. Porque é que foi importante incluir isso na coleção?

Martens: A minha abordagem, que na verdade tem sido a mesma desde a Y/Project, passa por não criar de acordo com o género. Compreendo que, por vezes, os vestidos e espartilhos super sensuais se destinam às mulheres, mas a [maioria] da marca, na minha opinião, é algo que deve ser usado por quem a quiser usar. Claro que nem todos os mercados estão abertos a isso, mas estamos a tentar. Penso que criámos, e o Damiano dirá como se sente, em torno do que queria usar e como queria usar as roupas. Era sobre o que ele gostava, de como se sentia confortável – e ele sabe exatamente o que quer. A coleção em si não é sobre o género; é sobre o Damiano, e é assim que ele se veste. No fim, se agradar a qualquer género, ficamos muito felizes. É mesmo assim que deve ser.

David: Como o Glenn disse, surgiu naturalmente. Para mim, era importante pôr-me no centro do projeto mas também respeitar a identidade da marca. É algo que sempre senti da parte da Diesel, o facto de não haver uma grande distinção entre a mulher e o homem. Pessoalmente, faço mais compras na secção feminina porque as calças e t-shirts têm um corte melhor, coisas desse género. Para mim era importante dar às pessoas a oportunidade de não pensarem demasiado, ou de se questionarem se podem ou não usar uma peça.

Cortesia da Diesel

Tenho de perguntar sobre as suas tatuagens, Damiano, e a decisão de as colocar em algumas peças da coleção. Gostava de saber como se sente quando, por exemplo, anda na rua e vê alguém com a sua... pele?

David: [risos] Penso nas minhas tatuagens como a minha primeira camada de roupa. Quando olho para trás e vejo fotografias nas quais não estava completamente coberto de tatuagens, tenho uma sensação estranha de me sentir um pouco nu. Vejo-as realmente como roupa, ou quase como acessórios. Demorei 25 anos a chegar a este ponto, por isso a ideia era – visto que as minhas tatuagens me transmitem uma sensação de poder – dar às pessoas a oportunidade de as experimentarem sem terem de se submeter a uma agulha durante 12 horas.

Glenn, tenho a sensação de que isto foi ideia sua…

Martens: Bem, temos sempre um pequeno twist ou algo mais atrevido [risos]. Queríamos algo que fosse um pouco mais pessoal para ele e dele, porque ele é muito acarinhado e pensámos em dar aos seus fãs algo ainda mais ligado a ele. Propusemos isto como uma brincadeira e ele adorou. Foi a nossa forma de o tornar mais divertido e animado ao lado de todas aquelas grandes capas e fatos. Tirámos fotografias dele e voilá, agora toda a gente pode ter a pele do Damiano [risos].


Cortesia da Diesel

Isso é muito importante. Estou curioso por ouvir as vossas opiniões sobre o que torna a roupa sexy. É a pessoa ou o produto, ou ambos?

David: Penso que há diferentes formas de o ver. Há diferentes tipos de sensualidade. Há roupas que podem ser sexy e cobrir todo o corpo também. É porque as roupas têm uma personalidade e, se forem bem pensadas e construídas, podem ter uma atitude. O que torna a roupa sexy, a meu ver, é a atitude; de não parecer que não nos importamos com nada, de ocupar espaço e ser visto. Trata-se de projetar uma energia de autoconfiança, poder e aquilo a que chamamos ‘coolness’, que é uma coisa impossível de explicar. O carisma é o que torna as pessoas atraentes, sensuais e interessantes. É muito Diesel, o que eu acho que é a melhor parte da marca.

Martens: Perfeito. José, vou pedir-lhe as gravações para mais tarde, para que possa tirar notas. Esta pode ser a minha resposta para futuras entrevistas! [risos]. Não há nada a acrescentar.

Cortesia da Diesel

Glenn, a sensualidade é algo no qual pensa quando faz o design ou o styling das coleções?

Martens: O Damiano disse-o muito bem, mas penso que é uma questão de empoderamento. Estamos a entrar numa onda de abertura e liberdade, e já não se trata de um cliché. Um homem já não é o tipo de cliché masculino dos anos 50, de como os nossos pais eram, por isso as fronteiras [de género] são muito mais fluidas e cinzentas. Penso que isso também significa que muitas pessoas estão muito mais ligadas a si próprias e mais conscientes de quem são, porque hoje têm essa liberdade para se expressarem sem terem de se enquadrar na sociedade de uma determinada forma. Isto dá-nos confiança e individualidade, e sentimo-nos com poder e bem na nossa pele. Saber quem somos é algo muito sexy. E penso que é definitivamente por isso que sinto que talvez a Moda masculina esteja a ficar cada vez mais sexy.

Cortesia da Diesel

Sei que é difícil escolher uma peça favorita, mas quais são os vossos destaques? Ou o que é que acham que eu devia comprar?

Martens: Para mim é difícil escolher um favorito porque fizemos esta coleção com as minhas histórias preferidas dos últimos dois anos da Diesel. Para ser sincero – e talvez o Damiano diga outra coisa – achei que ele estava muito entusiasmado com este casaco/quimono que fizemos. Diria que é o meu favorito, porque foi o que o deixou mais fascinado, e é uma verdadeira colaboração. É de ganga revestida, ou seja, é ganga pintada e depois cozida para ficar com um aspeto de pele. Achei que deixou o Damiano muito feliz, e acho que uma das coisas mais importantes da Moda é dar poder às pessoas e fazê-las felizes.

David: Tenho duas peças. O casaco que o Glenn mencionou e o fato gigante. Adoro a ideia das pessoas ocuparem espaço com as nossas roupas, de sermos exagerados e de não nos importarmos em ocupar demasiado espaço. É tudo uma questão de atitude.

Obrigado aos dois!

Martens: Obrigado! E José, por favor envie-nos fotos nas suas tatuagens Damiano.

Traduzido do original, disponível aqui

José Criales-Unzueta By José Criales-Unzueta

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