O poder do toque é inigualável, arriscamos até a dizer insubstituível. Mas depois de tantos meses de distanciamento social, será que ainda prestamos a devida atenção a esse poder? Ou melhor, será que algum dia tivemos consciência do toque?
O poder do toque é inigualável, arriscamos até a dizer insubstituível. Mas depois de tantos meses de distanciamento social, será que ainda prestamos a devida atenção a esse poder? Ou melhor, será que algum dia tivemos consciência do toque?
Fotografia de Maria Martins
Fotografia de Maria Martins
Um sérum hidratante aqui, retinol acolá. Um creme de dia, outro de noite. Protetor solar, sempre. Esfoliação uma a duas vezes por semana e ainda piscamos o olho às máscaras faciais que prometem trazer um brilho extra à tez. Estamos todos ligeiramente obcecados com rituais de skincare. Mas será que damos a devida atenção à pele que habita o nosso corpo do pescoço para baixo? Será que já parámos para pensar que a roupa que escolhemos vestir - que surpresa, surpresa, está em contacto com a nossa pele 24/7 - nem sempre tem as propriedades adequadas? O toque é algo poderoso, e está na altura de ganharmos consciência daquilo que está em contacto com o maior orgão do nosso corpo - que surpresa, surpresa, é a pele.
Muito mais do que uma barreira protetora, a pele é também um fio condutor para a penetração de substância externas que precisam de ser absorvidas. Da mesma maneira que substância nocivas e químicos tóxicos são absorvidos, a pele tem também a capacidade de alojar ingredientes ativos com propriedades rejuvenescedoras. E, depois de pensarmos nisso, nunca mais vamos olhar para a roupa da mesma maneira.
O pontapé de saída para o beautywear
Inês Neves, Inês Melo, Henrique Soutinho e Leonardo Marques formam o quarteto fantástico que ambiciona mudar a forma como olhamos para a roupa que vestimos. Juntos criaram a Gräffenberg, a primeira marca de skin-nurturing fashion do mercado. Ou seja, peças de roupa que contêm ingredientes ativos para o nosso corpo. “Existiu um momento que nós ficámos fechados em casa e parece que houve um blur the line daquilo que usamos dentro e fora de casa. Antigamente tínhamos escolhas muito limitadas, por isso, a marca vem não só tentar posicionar-se como uma a primeira marca de skin-nurturing fashion no mundo. Nós temos que olhar mais para a nossa pele e para aquilo que pomos em contacto com ela. Tudo à volta da marca está em função do toque,” explica-nos Leonardo Marques, numa conversa de Zoom com todos os fundadores da marca.
E, de facto, tudo na Gräffenberg é sobre o toque. Começando pelo próprio nome, que nada mais é do que uma homenagem a Ernest Gräfenberg, que em 1950 se deparou pela primeira vez com o ponto G. No artigo “A função da uretra no orgasmo feminino”, publicado no Jornal Internacional de Sexologia, escreveu: “São inumeráveis os pontos exógenos distribuídos por todo o corpo através dos quais a satisfação sexual pode ser alcançada.” E foi mais além: “São tantos os pontos que, até poderíamos dizer, não existir uma parte do corpo da mulher que não reaja sexualmente, o parceiro tem apenas que descobrir as zonas erógenas.” E é por isso mesmo que o epítome da Gräffenberg é: “What touchs you has so much power.”
A tecnologia e o design intemporal
Mudar a maneira como olhamos e utilizamos a roupa. Uma premissa um tanto ou quanto ambiciosa, mas a ciência, e agora a Gräffenberg, provam-nos que é possível. Para materializar estas peças foram precisos meses de investigação e de muita pesquisa. “Precisávamos de certas percentagens para atingir os claims, portanto, houve muitas tentativas. Tivemos dificuldade em arranjar um material que conjugasse e suportasse o G-cotton e, por isso, tivemos que fazer imensos testes com o cânhamo para ver se resultava. Muito do processo foi investido na pesquisa em laboratório para depois conseguirmos chegar a este resultado final. [Daqui para a frente] O nosso time to market vai ser muito mais fácil porque já percebemos que o cânhamo funciona bem, agora é testar com outros materiais,” conta Inês Neves. “Sem dúvida que a parte tecnológica foi aquela que nos deu mais dores de cabeça no início.”
No cerne estão o algodão e o cânhamo. Na formula deste algodão estão partículas de copper oxide, naturalmente presentes na pele, que são injetadas para a fibra do algodão que cria o G-cotton, com propriedades permanentes de skincare e também poderes antibacterianos. Este algodão é entrelaçado com o cânhamo e nasce assim uma fibra produzida com menos água, zero químicos e resíduos. Para elevar o complexo antioxidante, o material recebe microcapsulas de Coenzima Q10, conhecido por fortalecer a pele contra questões associadas ao envelhecimento.
As peças de roupa Gräffenberg promovem uma pele mais saudável e com um brilho extra (o duplo poder do antioxidante, rico em cobre e CoQ10, que ajuda a regular os níveis de colagénio), apoia a produção de colagénio e aumenta a firmeza (o CoQ10 estimula a produção de fibroblastos, células responsáveis pela produção de colagénio), reduz o aparecimento de rugas e linhas e ainda desodoriza a nossa pele, devido ao cobre que tem potentes propriedades que matam bactérias, fungos, vírus e micróbios, uma vez canalizada nas fibras, este tecido é capaz de matar as bactérias por detrás do nosso corpo, tornando as roupas anti-odor.
A primeira coleção, Ernest, é composta por cinco staples intemporais no nosso guarda-roupa. As silhuetas oversized e o tom neutro dão a estas peças um allure muito contemporâneo. Sobre o processo criativo, Henrique Soutinho explica que: "Foi todo feito por nós, a quatro mãos. Trabalhamos com uma pequena costureira em Ílhavo, no início.” O tecido é único e composto por 55% de cânhamo, 23% de algodão orgânico e 22% de G-cotton, no final todo o tecido recebe as cápsulas de Coenzima Q10, que à medida que este tecido entra em contacto com a nossa pele as propriedades começam a ser absorvidas. A manutenção destas peças é quase idêntica aquelas que temos no nosso guarda-roupa e dizemos “quase idêntica” porque o número de lavagens pode ser reduzido devido à desodorização do próprio tecido e o material pode ser lavado até 50 lavagens que as propriedades antibacterianas mantêm-se intactas.
De Portugal para o mundo, com muito orgulho. Com a exceção do cânhamo foi tudo produzido em terras de Camões. “É importante procurar tudo no lugar onde estás para diminuir os transportes e qualquer tipo de custo que possas ter. Diminuir a pegada,” sublinha Inês Melo. “Portugal é exímio e seria tonto da parte da marca não aproveitar este know-how que já existe e é tão grande. E porque há este orgulho em ser português, que também tem que ser enaltecido. E o resultado é isso: é toda a equipa que trabalhamos, desde o início foram sempre pessoas portuguesas. E isso é transmitido naquilo que a marca é.”
Este quarteto tem o sangue a fervilhar por um futuro onde a Moda se funde com o skincare. Dizem que vieram para revolucionar a forma como olhamos para a roupa e depois de percebemos que a nossa pele é uma verdadeira esponja, vamos pensar duas, ou até três vezes, sobre aquilo que queremos vestir.
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