Numa carta exclusiva para a Vogue, para assinalar o Dia da Terra (22 de Abril), a ativista sueca de 18 anos explica porque é que os nossos líderes mundiais têm de ir, urgentemente, além de objetivos vagos e hipotéticos.
Greta Thunberg tinha apenas 15 anos quando começou os seus protestos semanais fora do parlamento sueco em Estocolmo, em Agosto de 2018, incapaz de compreender o porquê de ninguém falar sobre a gravidade da crise climática que estamos a enfrentar. Desde então, a ativista de 18 anos desencadeou um movimento global que levou milhões de pessoas a saírem à rua, tornando-a uma das faces mais conhecidas da causa ambiental. Aqui, Thunberg explica o porquê de querer que os nossos líderes vão além das “grandes palavras e pouca ação” quando se trata de combater a crise climática.
"No Dia da Terra de 2021, a 22 de Abril, na Cimeira de Líderes liderada pelo presidente norte-americano Joe Biden, os países vão apresentar os seus novos compromissos climáticos, incluindo o net-zero até 2050. Vão chamar estes objetivos hipotéticos e ambiciosos. No entanto, quando se compara a ciência global com estes insuficientes, chamados “objetivos climáticos”, pode ver-se claramente que existe uma falha- que há décadas que deviam ser tomadas ações drásticas.
Claro que somos gratos por todos os esforços para salvaguardar o futuro e as condições de vida atuais. E esses objetivos poderiam ser um grande começo se não existisse o minúsculo facto de estarem cheios de lacunas. Tais como deixar de fora as emissões de bens importados, aviação e navegação internacionais, bem como a queima de biomassa, manipulando dados de linha de base, excluindo a maioria do feedback e pontos de ruptura, ignorando o aspeto crucial e global da equidade e das emissões históricas, e tornando estes alvos completamente dependentes da fantasia ou das tecnologias de captura de carbono que quase não existem. Mas não tenho tempo para me debruçar sobre este tema agora.
A questão é que podemos continuar a usar a contabilidade criativa do carbono e fazer batota para fingir que estes objetivos estão de acordo com o que é necessário. Mas não devemos esquecer que embora possamos enganar os outros e até a nós próprios, não podemos enganar nem a natureza nem a física. As emissões ainda existem, quer optemos por contá-las ou não.
Se queremos a mudança, devemos apelar à consciência e fazer com que o aparentemente impossível se torne possível.
No entanto, como acontece atualmente, as pessoas que estão no poder conseguem fugir a esse facto, pois a falha de consciência é tão grande. E esse é o coração do problema. Se chamares a estas promessas e compromissos de “ousados” e "ambiciosos", então não entendeste por completo a emergência da situação climática.
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Já estive com muitos líderes mundiais e até os próprios admitem que os seus objetivos não estão de acordo com os seus compromissos. E isso é natural. Eles só estão a fazer o que consideram politicamente possível. A sua função é satisfazer os desejos dos eleitores, e se os eleitores não estiverem a exigir uma verdadeira ação climática, é claro que não haverá mudanças reais. E, felizmente, é assim que a democracia funciona. A opinião pública gere o mundo. Se queremos a mudança, devemos apelar à consciência e fazer com que o aparentemente impossível se torne possível.
Compreendemos que o mundo é complexo, que muitos estão a dar o seu melhor e que o que é necessário fazer não é fácil. E, claro, estes objetivos insuficientes são melhores do que nada. Mas não podemos estar satisfeitos com algo só porque é melhor do que não fazer nada. Temos de ir mais longe que isso. Temos de acreditar que podemos fazer isto, porque podemos. Quando nós, humanos, nos unimos por um fim, podemos alcançar quase tudo.
Não estou pronta a desistir.
Enquanto os líderes mundiais apresentam agora as suas promessas, admitem que planeiam cumprir o objectivo de 1,5°C. Estão a render-se às suas promessas e aos nossos futuros. Não sei quanto a ti, mas estou segura que não estou pronta a desistir. Nem daqui a um milhão de anos. Vamos continuar a lutar por um futuro seguro. Cada fração de um grau importa e sempre importará.
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Podem chamar-nos ingénuos por acreditarmos que a mudança é possível, e está tudo bem. Mas pelo menos não somos tão ingénuos ao ponto de acreditarmos que os problemas serão resolvidos por países e empresas que fazem objetivos vagos, distantes e insuficientes sem qualquer pressão real por parte dos meios de comunicação e do público em geral.
A falha entre o que precisa de ser feito e o que estamos realmente a fazer está a aumentar a cada minuto. A diferença entre a urgência necessária e o nível de consciência e atenção para com o problema climático, está a tornar-se cada vez mais absurda. E o fosso entre os chamados objetivos climáticos e a ciência atual, não devia de continuar a ser ignorado.
Estas falhas de ação, consciência e tempo são o maior elefante que alguma vez se encontrou dentro de qualquer sala. Até conseguirmos combater este erro, não é possível uma verdadeira mudança. E não serão encontradas soluções.
Os nossos imperadores estão nus - vamos chamá-los atenção. E, por favor, mind the gap.
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