Com apenas 20 anos, Gonçalo Peixoto apresentou a sua coleção no âmbito da semana de Moda de Londres. A Vogue falou com o criador para saber tudo sobre esta viagem do design nacional.
Com apenas 20 anos, Gonçalo Peixoto apresentou a sua coleção no âmbito da semana de Moda de Londres. O melhor testemunho do momento é o do fotógrafo Tomás Monteiro para a Vogue Portugal.
A Devonshire Square é um local que enrola na língua, mas para os britânicos também não foi fácil proferir sem sotaque o nome português que arrebatou a zona, este domingo, na London Fashion Week: Gonçalo Peixoto estreou-se por terras de Sua Majestade numa apresentação de primavera-verão que fica imortalizada pelo olhar de Tomás Monteiro. Dois nomes nacionais à conquista de Inglaterra e, se as imagens servirem de prova, a missão foi bem sucedida.
Marcada pelas cores vibrantes contra o cenário cinza que é apanágio da capital inglesa, o olhar atento de Peixoto aos pormenores não deixava perceber a sua tenra idade. Com uma maturidade nos cortes e no design, na escolha de materiais e no jogo de cores e geometrias, os bastidores de Gonçalo ganham nova dimensão pela estética sincera de Monteiro, que não se coibíu de apanhar todos os episódios ensaiados e não ensaiados daquela sala que antecedeu o momento de desfiles. Os últimos afazeres, os momentos de entusiamos, o nervoso miudinho e a atenção redobrada, os pormenores das silhuetas... assim congelados nos belos retratos de Tomás quase escondem o lufa-lufa que é habitual nos backstages da Moda.
Agora, já com pés assentes em terras lusas, Gonçalo Peixoto falou com a Vogue sobre a conquista londrina.
Em Portugal não participas em nenhuma das duas semanas de Moda. Porquê?
Ainda não surgiu oportunidade. Normalmente as duas plataformas principais de Moda nacional convidam novos designers acabados de terminar o curso, como eu me adiantei, não surgiu essa oportunidade ainda.
Mas a semana de Moda de Londres aliciou-te. Como surgiu esta oportunidade?
Uma talent scouter de uma plataforma de novos designers descobriu as minhas peças online e fui contactado para apresentar a minha coleção durante a London Fashion Week. Tendo uma oportunidade como esta, aproveitei.
Agora que o reboliço acalmou, olhando para trás, qual foi a emoção mais óbvia destes dias?
Foi sem dúvida ver as minhas criações serem apresentadas. Foi o meu primeiro desfile e tendo sido na plataforma que foi, fiquei bastante emocionado. Ver as manequins e todas as pessoas a apreciarem as minhas peças e claro, receber um bom feedback, foi bastante bom.
Houve alguma peripécia, alguma catástrofe de última hora que possas partilhar connosco?
Sinceramente não houve nenhuma peripécia especial. Todas as peças já estavam finalizadas, o styling já estava previamente feito com a equipa que trabalha comigo, foi só mesmo chegar e vestir as manequins. Tudo correu a seu tempo e com relativa normalidade.
O que é que sentes que Londres pode dar à tua marca?
Obviamente uma visibilidade e internacionalização da marca. Londres é das maiores e mais importantes cidades do mundo, uma das quatro capitais da Moda, há um infinito espaço de oportunidades que poderão acontecer.
Que oportunidades de negócio surgiram?
Ainda é um pouco cedo para falar disso. Nestes meses que sucedem o desfile, há diversos contactos de compradores, de novos pontos de venda, etc, etc. São negócios que vão acontecendo e sendo tratados com tempo. O que mais se sente de imediato são subidas nas vendas das peças.
A internacionalização é um dos teus objetivos maiores?
Claro que sim. Conquistar um espaço permanente numa das principais semanas de Moda do mundo e ter vários pontos de venda em todo o mundo e ser reconhecido como um designer de Moda, é definitivamente o meu objetivo principal.
Não bastava apresentares fora de Portugal, ainda o fizeste em formato see now buy now. Porque é que tomaste esta opção?
Estou a experimentar esse formato. Como já houveram vários designers e marcas que fizeram isso, resolvi experimentar também. Só algumas peças da coleção ficaram disponíveis nesse formato, não foi toda a coleção. Não quer dizer que vai haver sempre, tudo depende como funcionar.
Quais são as vantagens que vês neste formato? Pensas que faz sentido em Portugal?
Este tipo de mecanismo funciona mais para pessoas que realmente compram e admiram Moda e que querem logo adquirir o que vêm. Para o público mais geral, creio que não funciona tão bem pois neste momento a maioria das pessoas estão focadas a comprar peças de outono/inverno para a estação que se avizinha e não a comprar peças da próxima primavera/verão. Em relação a Portugal, poderá fazer sentido em certos nichos de mercado, como já tinha dito. Mas lá está, estamos numa fase de experimentação.
Qual é a tua opinião quanto ao sistema de Moda português?
Estamos numa era de mudança. Faltam alguns apoios a nível do Estado e privados, mas isso também parte da vontade do público. Se houvesse uma maior procura do público português pela Moda nacional, de certeza que haveriam outros meios.
Gostavas de conquistar mais público nacional? Se sim, qual achas ser a melhor maneira para o fazer?
Claro que sim. A melhor maneira de o fazer também parte da imprensa e da comunicação e marketing de cada marca. Temos que provar aos portugueses que a Moda nacional é tão boa ou melhor que muitas marcas internacionais. Aliás, temos muitas marcas internacionais de luxo a produzir em Portugal. O próprio hábito do português tem que ser um pouco adaptado e temos que provar que as nossas marcas são realmente boas e têm bastante qualidade ao invés do público comprar marcas já conhecidas internacionais.
© Todas as imagens: Tomás Monteiro.