Sentir algum tipo de dor durante a menstruação não é normal, mas é comum. Mais comum do que se pensa. Além da toma de analgésicos, que alternativas existem para aliviar o desconforto? Fomos investigar e descobrimos vários produtos, desde supositórios vaginais a aparelhos de eletroestimulação.
Sentir algum tipo de dor durante a menstruação não é normal, mas é comum. Mais comum do que se pensa. Além da toma de analgésicos, que alternativas existem para aliviar o desconforto? Fomos investigar e descobrimos vários produtos, desde supositórios vaginais a aparelhos de eletroestimulação.
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Pode ser um desconforto, passageiro ou permanente. Pode ser uma pontada, breve e lancinante. Pode ser uma cólica, que surge quando a mulher menos espera. Pode ser uma dor suportável, pode ser uma dor incapacitante. Certo é que ela está lá, todos os meses, a cada menstruação.
Esta dor tem um nome: chama-se dismenorreia e estima-se que afete entre 16% a 91% das mulheres em idade reprodutiva, podendo o desconforto ser intenso em 29% dos casos. “Apesar de ser uma situação comum, não é uma situação normal”, começa por esclarecer Diana Patrício, naturopata e autora do livro Saúde Feminina (Edições Chá das Cinco, € 16,60), referindo-se às dores na região pélvica e/ou lombar nos dias imediatamente antes da menstruação ou nos primeiros dias da mesma. “O natural seria que a mulher não sentisse desconforto nem dor”, diz. Mas o que fazer quando o ‘natural’ é precisamente uma menstruação dolorosa?
De um aparelho portátil que emite impulsos elétricos na região abdominal a supositórios vaginais, sem esquecer práticas como a acupuntura e a implementação de mudanças na alimentação e no estilo de vida, reunimos uma série de métodos que se apresentam como uma alternativa aos medicamentos convencionais.
Pelo tamanho reduzido, design compacto e pelos botões que apresenta, o Livia mais parece um MP3. Não é um dispositivo que dê música, mas pode ajudar a embalar quem sofre de dores menstruais. A função deste aparelho, que cabe na palma de uma mão e, portanto, pode ser transportado facilmente na carteira, é emitir impulsos elétricos nas regiões onde o desconforto é maior — seja numa dada área do baixo-ventre, num ponto específico da zona lombar, sobre os ovários ou ao centro da região abdominal — através de dois eletródos que ficam colados à pele, tal qual dois pensos, para aliviar as dores e pontadas.
Long story short: a tecnologia desta máquina assenta na teoria do ‘Gate Control’, segundo a qual é possível suprimir uma sensação dolorosa por meio de uma eletroestimualção não dolorosa, impedindo assim que os sinais de dor cheguem ao cérebro e viajem pelo sistema nervoso central. No corpo, a sensação resultante dos impulsos elétricos do Livia é semelhante a um formigueiro, que é mais ou menos ligeiro consoante a intensidade dos impulsos, dependente do nível da dor associada. Ficando escondido debaixo da roupa, o aparelho pode ser usado durante o dia, em qualquer altura da fase menstrual, por um período máximo de 10h.
Garante a marca que o uso do Livia, que cumpre com as leis de segurança europeia no que à saúde diz respeito e tem o selo de aprovação da agência norte-americana Food and Drug Administration, é seguro, não afeta a fertilidade e não interfere com o equilíbrio hormonal. Mulheres com idade igual ou superior a 16 anos podem recorrer a este pequeno aparelho, sendo que a única situação em que o uso do mesmo não está recomendado é em mulheres com pacemakers.
E se com a passagem de um roll-on no baixo-ventre e na lombar pudesse apaziguar as dores menstruais? A Lola, marca norte-americana de produtos de higiene íntima pensada por e para mulheres, passou da intenção à ação e criou um produto assim. Trata-se do Cramp Care, um roll-on livre de parabenos e fragrâncias sintéticas apenas formulado com 17 óleos essenciais puros, entre os quais os óleos de camomila, gengibre e gerânio, associados ao alívio da dor muscular.
O Herbal Heating Patch, da marca Rael, é a versão 2.0 da botija de água quente, tendo a seu favor a comodidade e o design discreto (pode ser usado enquanto realiza as tarefas do dia a dia, sem que o sinta e sem que as pessoas notem que está a usá-lo). Depois de colado na parte da frente das cuecas (e nunca em contacto direto com a pele), este penso térmico proporciona, por um período máximo de seis horas, um calor reconfortante e consistente, para promover o fluxo sanguíneo e ajudar os músculos a relaxar, reduzindo assim o desconforto abdominal.
A principal substância dos supositórios vaginais da marca norte-americana Foria é o canabidiol (CBD), um derivado da planta de canábis que a Organização Mundial de Saúde considera ser seguro para o organismo humano. A redução do processo anti-inflamatório e da dor crónica são alguns dos efeitos já estudados deste componente. “Relativamente às dores menstruais, não excluo a possibilidade de integrar o CBD como uma substância que pode ajudar a aliviar o desconforto”, diz Diana Patrício. No entanto, a naturopata alerta para as eventuais interações que podem surgir entre a toma do canabidiol e alguns fármacos, sendo sempre necessária a avaliação de um profissional de saúde.
Mudanças no estilo de vida e as terapias alternativas
“Muitas vezes basta apenas corrigir hábitos alimentares, gerir os níveis de stress e fazer uma suplementação adequada que supra as carências existentes para apaziguar a dor e o desconforto associados ao período menstrual”, defende Diana Patrício. No que à alimentação diz respeito, a naturopata recomenda que sejam excluídos todos os produtos processados, por possuírem muitas vezes “substâncias que de alguma forma contribuem para a inflamação do nosso organismo", bem como o açúcar e o leite. O consumo de carnes vermelhas, de cereais com glúten e de laticínios, nomeadamente queijo e iogurte, também deve ser moderado, “dependendo da sensibilidade apresentada pela mulher aos mesmos, uma vez que são alimentos susceptíveis de causar inflamação.”
O que privilegiar, então? “Alimentos oferecidos pela natureza”, resume a especialista em medicina natural, antes de destacar os legumes, as frutas, os frutos secos, os ovos e os peixes. A naturopata não esquece as propriedades anti-inflamatórias do gengibre, pelo que “preparar e beber infusões com a raiz desta planta pode ajudar a aliviar a dismenorreia.”
No campo dos suplementos, há que considerar as carências existentes. “A carência de vitamina D, que é tão comum em todos nós, ainda que vivamos num país com sol, pode também contribuir para a dismenorreia”, alerta Diana Patrício. Assim, quando em falta no organismo, deve ser devidamente suplementada, após a observação médica. Também a suplementação de zinco e magnésio poderá proporcionar um alívio das dores menstruais, uma vez que estes minerais atuam na redução dos espasmos que dão origem à dor. A naturopata sugere ainda a toma de suplementos de curcuma, com concentrações adequadas de curcumina, bem como suplementos à base de enzimas como a bromelaína e a papeína. “Têm todos uma acção anti-inflamatória eficaz”, resume.
Em relação às terapias que se apresentam como uma mais-valia face à dismenorreia, Diana Patrício destaca a reflexologia e a acupuntura, pois não só “ajudam a amenizar os sintomas” como também, e sobretudo, “atuam nas suas causas.” Práticas como a meditação, o ioga e o pilates são ainda apontadas pela naturopata como sendo “excelentes para uma boa gestão de stress”, contribuindo, de forma bastante positiva, para aliviar o desconforto pélvico e abdominal associado à menstruação.
Quando nada parecer funcionar
As recomendações supramencionadas aplicam-se sobretudo aos casos de dismenorreia primária, a menos severa quando comparada com a dismenorreia secundária. Esta última geralmente traduz-se em dores “demasiado intensas” que não aliviam “com a toma de anti-inflamatórios, nem com a correção dos hábitos de vida e suplementação adequada, condicionando as rotinas da mulher ou adolescente, que se sente obrigada a faltar ao trabalho ou às aulas e, assim, deixa de conseguir executar com normalidade as tarefas do dia-a-dia”, refere a especialista em saúde feminina. Nestes casos, as dores podem estar associadas a doenças do sistema reprodutor como, por exemplo, a endometriose e a adenomiose, mas também à presença de fibromiomas ou anormalidades congénitas na anatomia do útero ou da vagina, pelo que a observação médica não deve ser descurada.