Maria Clara Pleca
Durante o mês de junho, a Vogue Portugal celebra o português como sinónimo de Moda de qualidade com entrevistas aos designers nacionais mais promissores.
Para Maria Clara Pontes Leça, Moda é uma ferramenta essencial para preservar o que é seu por direito. Natural da Madeira, a jovem designer utiliza o seu trabalho como forma de explorar a sua cultura. Leça equaciona Moda a artesanato: uma forma de entender práticas ancestrais que são basilares à identidade portuguesa. Com a ambição de manter e atualizar os elementos culturais do passado, a designer cria diálogos relevantes entre o passado, o presente e o futuro da cultura madeirense face a um mundo globalizado. Ainda que mantenha a dedicação à sua missão, Leça está de momento a completar um mestrado em Copenhaga - por vezes a perspetiva é a melhor ferramenta que um criativo tem para entender o seu sujeito. Mas a distância (tão literal como metafórica) não serve apenas propósitos alusivos. A designer está a aproveitar a oportunidade para diversificar as suas capacidades, a sua audiência e o impacto do que cria.
Qual é a tua maior fonte de inspiração?
Não sei se definiria como a minha maior fonte de inspiração, mas gosto muito de trabalhar com a minha cultura e tradições, especialmente madeirenses. A nossa tradição têxtil e artesanal é muito rica e uma grande inspiração, ultimamente tenho explorado e experimentado diferentes formas de trazer estas técnicas artesanais tradicionais para um contexto mais contemporâneo, tentado reinterpretá-las através da estampagem, malha digital, ou outras formas têxteis.
Como é que a cultura portuguesa afeta o teu design?
Como já referi anteriormente, a cultura portuguesa, e mais concretamente a cultura madeirense, tem uma influência significativa no meu trabalho e na minha identidade criativa. Para além de me sentir naturalmente influenciada pelas minhas raízes, sinto também que é o meu dever preservar e promover a minha cultura. De alguma maneira, através do que faço, tentar comunicar as minhas convicções e sensibilizar para questões como a preservação da nossa herança cultural, a sustentabilidade, a valorização das artes e do trabalho manual, e do consumo consciente.
Qual é o maior benefício de ser um designer de Moda em Portugal?
Além de uma cultura e um artesanato muito rico, que me dão muita informação com que trabalhar e inspirar, somos um dos poucos países na Europa com mão de obra qualificada em muitos setores da indústria têxtil e com várias fábricas de produção de vestuário e calçado no país. Neste momento não é a minha realidade, mas isto pode significar a possibilidade de uma produção inteiramente local para muitos designers, que no futuro será uma grande facilidade em vista das grandes restrições que serão impostas no setor da Moda. O futuro é uma indústria mais sustentável, com abordagens centradas em questões de longevidade, circularidade e localismo.
Qual é o maior desafio em ser um designer de Moda em Portugal?
A falta de valorização do trabalho único, criativo e manual é um desafio constante. O mais frequente é não ser reconhecido o verdadeiro valor e tempo investido, além dos conhecimentos e dedicação necessários para produzir peças únicas e mais sustentáveis. Claro que o poder de compra relativamente baixo em Portugal é um fator que pode influenciar significativamente, no entanto ainda sinto que o maior problema está na perceção errada e até o desconhecimento total de todos os problemas relacionados com a indústria da Moda, que é um problema mundial e não só no nosso país.
Quais são os teus objetivos para a tua marca?
Neste momento estou a terminar o meu primeiro ano de mestrado na Royal Danish Academy, em Copenhaga e o meu maior objetivo é conseguir experimentar ao máximo e aprender coisas novas. É uma faculdade muito boa onde tenho acesso a imensas técnicas e máquinas com as quais nunca teria tido a oportunidade de trabalhar, e muito menos aprender a manusear, se não estivesse a estudar cá. Um dos meus maiores objetivos, além de ser designer, é ser também artesã e possuir o conhecimento e a capacidade de conseguir produzir as minhas criações, que futuramente apresentarei no desfile final de curso na Semana da Moda de Copenhaga.
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