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Modaportugal: a criatividade europeia em competição

20 Dec 2018
By Sara Andrade

E a Vogue Portugal esteve a assistir ao processo de seleção, antes de serem anunciados os 11 prémios do concurso Modaportugal.

E a Vogue Portugal esteve a assistir ao processo de seleção, antes de serem anunciados os 11 prémios do concurso Modaportugal.

É na sala de Arquivo da Alfândega do Porto que se cria uma espécie de cenário de casting ao género daqueles programas de talentos televisivos que roubam audiências. Numa mesa corrida, senta-se um júri que, ali - tal como no pequeno ecrã onde se apuram qualidades e se separa o trigo do joio -, não se coíbe de mostrar a sua personalidade implacável tanto quanto benevolente, mas acima de tudo, confirma o (re)conhecimento e bagagem criativa que lhes concede a posição de autoridade: Eduarda Abbondanza (Presidente da ModaLisboa), Svenja Specht (Head Designer da Reality Studio), Adriano Batista (Diretor da revista Fucking Young!), Jessica Michault (Launchmetrics), Livio Facchini (Public Image PR), Miguel Flor (Diretor da revista Prinçipal) e Gemma Williams (Business of Fashion) não perdoam os erros, mas não se retraem quando chega a altura de aplaudir conquistas e distribuir elogios para julgar da melhor maneira quem quer entrar num mundo que implica trabalho, perfeccionismo, design, dedicação. Só que aqui, ao contrário dos formatos que querem fazer números de share, não chegam os equivocados, os fracos, os mais ou menos. Chegam os potenciais vencedores.

Nervosos, os participantes, todos estudantes, desta fashion design competition (uma iniciativa do CENIT - Centro de Inteligência Têxtil e da ANIVEC - Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção, em parceria com a APICCAPS e a MODALISBOA, que visa reunir duas áreas essenciais da indústria de moda - design e confeção) entram um a um com o seu charriot e três looks de uma coleção criada no âmbito das aulas, no caso da categoria Vestuário, e um modelo de sapatos, no caso da categoria Calçado.

As apresentações assemelham-se ao ambiente de uma dissertação de final de curso e os jovens estão nervosos - naturalmente, uma vez que, além do CV que um galardão destes pode trazer, está em jogo uma recompensa monetária que pode chegaraos €7.500 -, mas engolem a timidez e o receio para, nos apenas cinco minutos estipulados para mostrarem o que valem, falar sobre a criatividade e especificações técnicas das suas peças. E há criatividade, mesmo que seja daquela com espaço para evoluir: do eco-printing, em que o tie-dye é feito com ramos, folhas e flores, de Camila Gallerini (Itália) ao conceito de cidades no ar que dão direito a vestidos-páraquedas, de Artur Dias (Portugal), as propostas dos alunos são tão díspares quanto fora da caixa.

Mas a seleção tem que ser feita e, depois de se fecharem as provas de cada país, o júri de ilustres reúne-se para chegar a um consenso, que nem sempre é fácil ou existente - e ainda bem. Na mesa, debatem-se elementos como a criatividade, a usabilidade, a inovação, os materiais, a inspiração, o conceito, a execução... “isto não é usável”, ouve-se. “Mas moda não é só usabilidade, não é pensada para andar de autocarro”, contrapõe-se. Os argumentos fazem-se com as melhores expressões e o sentido subjacente faz-se sentir, mas os cabides sabem a pouco, por isso Miguel Flor insiste na decisão só depois de se ver um desfile de ensaio, algo que se prova crucial para apurar selecionados. No final, nem todos os que ficaram na mesa pelo charriot mantiveram a posição quando pisaram a passerelle do Modaportugal, num serão que contou com Raquel Strada como anfitriã.

Na distinção por país, a categoria de design de Moda deixou para a posteridade os nomes de Artur Dias do Modatex (Portugal), Carolina Koziski do IED Madrid (Espanha), Frank Lin da AMD – Akademie Mode&Design (Alemanha), Giulia Masciangelo da Polimoda (Itália) e Yelim Cho do London College of Fashion (Reino Unido). No calçado, Beatriz Vasconcelos da Academia de Design e Calçado (Portugal) e Moncayo do IED Madrid (Espanha) foram os nomes que completaram os sete designers que receberam um prémio de €2.500. 

O vencedor pela França, Zhikai Yang da Esmod Paris, na categoria de design de moda, e a vencedora por Itália, Stephanie Grosslercher da Polimoda, na categoria de design de calçado, também arrecadaram este valor, ao qual se juntou, para cada um, mais €5.000, por terem sido os grandes vencedores do MODAPORTUGAL | Fashion Design Competition, num prémio monetário total de €7.500 para cada participante.

Os golden tickets podem ter sido apenas para 9 dos 29 participantes, mas os restantes, o que não levam no bolso, levam na mente: os designers oriundos de escolas de moda da Alemanha, Espanha, França, Itália, Portugal e Reino Unido visitaram as empresas Atelier des Créateurs, Calvelex, Crialme, Eureka e Riopele, absorvendo conhecimento em produção e expertise que não tem preço.

«Esta iniciativa pretende ser uma plataforma de promoção da excelência industrial e do que de melhor se faz em Portugal, através do concurso de jovens designers europeus, que nestes dois últimos dias visitaram as empresas juntamente com jornalistas nacionais e internacionais, e também com a entrega dos Prémios de Excelência Empresarial, que projetam o trabalho das empresas e a imagem do nosso sector a nível nacional e internacional», explicou Manuel Lopes Teixeira, presidente do CENIT.

Três dicas Vogue para melhorar a prova de casting

- Apresentar com confiança. O modo como expõe o seu conceito de coleção ajuda o júri a perceber não só o processo criativo e a sua tradução no resultado final, mas também a avaliar o entusiasmo do aluno pelas peças. A comunicação é meio caminho andado para fazer valer a criatividade do projeto e incrementar - ou não - o seu apelo para quem o avalia.

- Mostrar as peças ao júri. Apesar dos jurados terem acesso a lookbooks com imagens das peças, não há nada que "venda" melhor a peça que o seu toque, o olhar de perto os acabamentos e analisar cortes e costuras. Mesmo que entre na sala com um charriot, aproxime as silhuetas do júri, colocando-as em cima da mesa de trabalho.

- Garantir que quem analisa vê também a peça numa modelo. Faça-se acompanhar de apoio visual dos looks em modelos, para melhor mostrar a silhueta e cair de cada peça. O ideal será sempre vê-la, ao vivo, num modelo, por isso, tente garantir um desfile ou um fitting ao qual o júri tenha acesso.

Sara Andrade By Sara Andrade

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