Atualidade   Entrevistas  

O orgulho de Pabllo Vittar

27 Jun 2018
By Tiago Manaia

Na semana em que o orgulho LGBTQ+ ganhou as ruas de todo o mundo, em marchas e celebrações, falámos com Pabllo Vittar.

Na semana em que o orgulho LGBTQ+ ganhou as ruas de todo o mundo, em marchas e celebrações, falámos com Pabllo Vittar. O fenómeno da pop brasileira, surpreendeu Lisboa ao aparecer no Arraial Pride, organizado pela ILGA Portugal. Era a primeira atuação de Pabllo fora do Brasil. Recebido por uma multidão incrédula, as letras das suas canções pareciam esmagar o Terreiro do Paço – ecoavam num coro de milhares de vozes. No ar deixou a mensagem de que tudo é possível. Afinal Pabllo Vittar é um belo emblema de liberdade.

A música de Pabllo Vittar chega-nos de Minas Gerais no Brasil. Foi na Uberlândia, cidade onde o jovem cantor drag queen de 23 anos decidiu viver, que começou a dar nas vistas com os looks que inventava para sair à noite. A internet tem-se ocupado de espalhar todo o seu carisma pelo mundo. Desde 2015 que os seus vídeos se multiplicam em milhares de visualizações. A canção Open Bar terá sido o rastilho de um fenómeno que não para de crescer. É na realidade uma versão de Lean On, do célebre produtor norte-americano Diplo, também ele rendido agora aos encantos de Vittar – no vídeo da canção Então Vai, Diplo e Vittar beijam-se na boca para a eternidade. Tudo a favor da igualdade. Há um discurso de inclusão constante no seu trabalho. Pabllo Vittar é gender fluid: veste-se de mulher, assume plenamente o seu lado feminino, viaja de um género ao outro. Em 2017, lançou o primeiro álbum repleto hits. Os singles Todo o Dia e K.O. parecem já fazer parte do nosso inconsciente. São canções que se ouvem em cada esquina, seja no Brasil ou em Portugal. 

Vittar tem estado a gravar um segundo álbum em Los Angeles, enquanto não é lançado, sucedem-se colaborações suas com outros artistas: Charlie XCX, a angolana Titica e a dupla de Nova Iorque, Sofi Tukker, com quem se encontrava a gravar um videoclipe no dia em que o conhecemos. 

Ainda no rescaldo do concerto que dera dois dias antes, fala connosco num camarim improvisado, em frente a um espelho. A Pabllo está rodeada de uma equipa que a observa atentamente. A presença é generosa, a silhueta longa, o timbre único.

©Rui Palma

És um símbolo de tolerância e aceitação, e já não é só no Brasil, a tua mensagem espalhou-se pelo mundo. Que desafios tens encontrado? Como manténs o teu centro? Qual é o teu foco? Há alguma meta?

O meu foco é continuar a fazer o meu trabalho, que leva essa mensagem tão importante, sobretudo nos dias de hoje. 

No Brasil não tem sido fácil, mas conseguimos criar uma força muito grande, e eu fico feliz de estar entre os artistas LGBTQ+ que estão a crescer com essa massa de positividade e de coisas boas, nas quais acreditamos. Temos um país onde podemos ser quem somos, sem medo de sair nas ruas. Podemos mostrar a nossa arte da maneira que queremos e nos é favorável. Essa é a minha meta. Os meus fãs deixam-me centrada, com os pés assentes no chão para que nada me desvie desse propósito. Sinto-me feliz por poder fazer o que tenho feito no Brasil.

No entanto, na tua conta Instagram fizeste um post onde chamavas à atenção para o facto de que em cada 19 horas, alguém LGBTQ+ ser assassinado no teu país. O ativismo é importante? 

É sempre importante levantarmos as nossas bandeiras e correr atrás dos nossos direitos que muitas vezes não são garantidos legalmente. Temos de gritar, falar mesmo. Abrir a boca e falar, para que as pessoas saibam e tenham noção do que está a acontecer connosco. Eu sinto-me privilegiada em poder fazer o que faço, e em troca receber amor e carinho, mas há aqueles que só conhecem o lado ‘ruim’. É para essas pessoas que o faço. Para lhes garantir isso. 

Em que momento da tua vida percebeste que tinhas a liberdade do teu lado. A tua mãe sempre te apoiou, mesmo quando eras adolescente... 

Ohhh (murmura). A minha mãe apoiou-me sempre desde pequeno mesmo... Acho que é por isso que eu sou tão exibida e extrovertida. Ela disse-me que eu podia ser quem eu quisesse. É graças a ela que estou aqui (manda um beijo para o ar).

E a Beyoncé? 

(solta um pequeno grito) Quando eu era pequeno, não havia nenhum ícone LGBTQ+, então eu foquei-me nas grandes divas que me inspiravam. Fui há poucos dias ver um concerto dela a Amesterdão, foi a primeira vez que a vi ao vivo... É realmente incrível. Estou mais apaixonada ainda, e é uma grande inspiração para todos nós que estamos no palco, somos artistas e gostamos de dançar. 

O que aconteceu sábado, durante o teu concerto do Arraial Pride aqui em Lisboa?

Ai, muita emoção.

Não estavas à espera de ver tanta gente?

Eu nunca imaginei sair do meu país para cantar e ainda mais ser querido ou amado. Nunca imaginamos até onde a nossa música vai. É sempre bom ter esse choque de realidade no contacto com as pessoas.

©Rui Palma

Viste que a polícia teve de ir reforçar as barreiras que separavam o público do palco... Eu vi! O pessoal aqui de Lisboa é muito parecido com o do Brasil – querido e fervoroso. Têm uma energia ‘super astral’. Aproveito e agradeço a todos os Vittar lovers de Portugal. 

Tens multiplicado as tuas colaborações com marcas de roupa: a C&A vendeu o fato de banho que usavas no teu vídeo Então Vai (com as cores da rainbow flag), e estás associado a uma coleção de óculos para a marca Chilli Beans... 

Amo a Moda, é um mundo que me fascina. É incrível quando essas empresas de referência entram em contacto connosco. É muito ‘legal’ poder somar com outras pessoas uma força maior.

O que podemos esperar do teu segundo álbum?

Vai ser ainda mais brasileiro do que o outro, com algumas pitadas estrangeiras e latinas. As vozes estão nitidamente melhores do que no meu primeiro álbum. 

Eu vou para o Brasil agora, já tenho os dois primeiros singles escolhidos, os videoclipes vão ser gravados. A nova era vai começar.

 

Agradecimentos: Letícia Gonçalves

Tiago Manaia By Tiago Manaia

Relacionados


Beleza  

Shimmering Aura

29 Oct 2024

Notícias   Curiosidades   Eventos  

A nova geração da Moda de Nova Iorque: Diotima, Willy Chavarria, Luar e Zankov levam para casa as maiores honras nos Prémios CFDA 2024

29 Oct 2024

Atualidade   Moda  

As estrelas mais bem vestidas dos Prémios CFDA 2024

29 Oct 2024

Curiosidades  

Os 20 melhores disfarces de Halloween das celebridades

29 Oct 2024