Na semana em que o orgulho LGBTQ+ ganhou as ruas de todo o mundo, em marchas e celebrações, falámos com Pabllo Vittar.
Na semana em que o orgulho LGBTQ+ ganhou as ruas de todo o mundo, em marchas e celebrações, falámos com Pabllo Vittar. O fenómeno da pop brasileira, surpreendeu Lisboa ao aparecer no Arraial Pride, organizado pela ILGA Portugal. Era a primeira atuação de Pabllo fora do Brasil. Recebido por uma multidão incrédula, as letras das suas canções pareciam esmagar o Terreiro do Paço – ecoavam num coro de milhares de vozes. No ar deixou a mensagem de que tudo é possível. Afinal Pabllo Vittar é um belo emblema de liberdade.
A música de Pabllo Vittar chega-nos de Minas Gerais no Brasil. Foi na Uberlândia, cidade onde o jovem cantor drag queen de 23 anos decidiu viver, que começou a dar nas vistas com os looks que inventava para sair à noite. A internet tem-se ocupado de espalhar todo o seu carisma pelo mundo. Desde 2015 que os seus vídeos se multiplicam em milhares de visualizações. A canção Open Bar terá sido o rastilho de um fenómeno que não para de crescer. É na realidade uma versão de Lean On, do célebre produtor norte-americano Diplo, também ele rendido agora aos encantos de Vittar – no vídeo da canção Então Vai, Diplo e Vittar beijam-se na boca para a eternidade. Tudo a favor da igualdade. Há um discurso de inclusão constante no seu trabalho. Pabllo Vittar é gender fluid: veste-se de mulher, assume plenamente o seu lado feminino, viaja de um género ao outro. Em 2017, lançou o primeiro álbum repleto hits. Os singles Todo o Dia e K.O. parecem já fazer parte do nosso inconsciente. São canções que se ouvem em cada esquina, seja no Brasil ou em Portugal.
Vittar tem estado a gravar um segundo álbum em Los Angeles, enquanto não é lançado, sucedem-se colaborações suas com outros artistas: Charlie XCX, a angolana Titica e a dupla de Nova Iorque, Sofi Tukker, com quem se encontrava a gravar um videoclipe no dia em que o conhecemos.
Ainda no rescaldo do concerto que dera dois dias antes, fala connosco num camarim improvisado, em frente a um espelho. A Pabllo está rodeada de uma equipa que a observa atentamente. A presença é generosa, a silhueta longa, o timbre único.
©Rui Palma
És um símbolo de tolerância e aceitação, e já não é só no Brasil, a tua mensagem espalhou-se pelo mundo. Que desafios tens encontrado? Como manténs o teu centro? Qual é o teu foco? Há alguma meta?
O meu foco é continuar a fazer o meu trabalho, que leva essa mensagem tão importante, sobretudo nos dias de hoje.
No Brasil não tem sido fácil, mas conseguimos criar uma força muito grande, e eu fico feliz de estar entre os artistas LGBTQ+ que estão a crescer com essa massa de positividade e de coisas boas, nas quais acreditamos. Temos um país onde podemos ser quem somos, sem medo de sair nas ruas. Podemos mostrar a nossa arte da maneira que queremos e nos é favorável. Essa é a minha meta. Os meus fãs deixam-me centrada, com os pés assentes no chão para que nada me desvie desse propósito. Sinto-me feliz por poder fazer o que tenho feito no Brasil.
No entanto, na tua conta Instagram fizeste um post onde chamavas à atenção para o facto de que em cada 19 horas, alguém LGBTQ+ ser assassinado no teu país. O ativismo é importante?
É sempre importante levantarmos as nossas bandeiras e correr atrás dos nossos direitos que muitas vezes não são garantidos legalmente. Temos de gritar, falar mesmo. Abrir a boca e falar, para que as pessoas saibam e tenham noção do que está a acontecer connosco. Eu sinto-me privilegiada em poder fazer o que faço, e em troca receber amor e carinho, mas há aqueles que só conhecem o lado ‘ruim’. É para essas pessoas que o faço. Para lhes garantir isso.
Em que momento da tua vida percebeste que tinhas a liberdade do teu lado. A tua mãe sempre te apoiou, mesmo quando eras adolescente...
Ohhh (murmura). A minha mãe apoiou-me sempre desde pequeno mesmo... Acho que é por isso que eu sou tão exibida e extrovertida. Ela disse-me que eu podia ser quem eu quisesse. É graças a ela que estou aqui (manda um beijo para o ar).
E a Beyoncé?
(solta um pequeno grito) Quando eu era pequeno, não havia nenhum ícone LGBTQ+, então eu foquei-me nas grandes divas que me inspiravam. Fui há poucos dias ver um concerto dela a Amesterdão, foi a primeira vez que a vi ao vivo... É realmente incrível. Estou mais apaixonada ainda, e é uma grande inspiração para todos nós que estamos no palco, somos artistas e gostamos de dançar.
O que aconteceu sábado, durante o teu concerto do Arraial Pride aqui em Lisboa?
Ai, muita emoção.
Não estavas à espera de ver tanta gente?
Eu nunca imaginei sair do meu país para cantar e ainda mais ser querido ou amado. Nunca imaginamos até onde a nossa música vai. É sempre bom ter esse choque de realidade no contacto com as pessoas.
©Rui Palma
Viste que a polícia teve de ir reforçar as barreiras que separavam o público do palco... Eu vi! O pessoal aqui de Lisboa é muito parecido com o do Brasil – querido e fervoroso. Têm uma energia ‘super astral’. Aproveito e agradeço a todos os Vittar lovers de Portugal.
Tens multiplicado as tuas colaborações com marcas de roupa: a C&A vendeu o fato de banho que usavas no teu vídeo Então Vai (com as cores da rainbow flag), e estás associado a uma coleção de óculos para a marca Chilli Beans...
Amo a Moda, é um mundo que me fascina. É incrível quando essas empresas de referência entram em contacto connosco. É muito ‘legal’ poder somar com outras pessoas uma força maior.
O que podemos esperar do teu segundo álbum?
Vai ser ainda mais brasileiro do que o outro, com algumas pitadas estrangeiras e latinas. As vozes estão nitidamente melhores do que no meu primeiro álbum.
Eu vou para o Brasil agora, já tenho os dois primeiros singles escolhidos, os videoclipes vão ser gravados. A nova era vai começar.
Agradecimentos: Letícia Gonçalves
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