Maga Abramoff fotografada por Carlos Teixeira e com direção criativa e styling de Patrycja Juraszczyk para a The (Un)popular Issue da Vogue Portugal, publicada em julho de 2023.
Estar constantemente a fazer coisas para se sentir realizado pode transformar-se numa produtividade tóxica. Eis como evitar a auto-sabotagem, segundo uma especialista.
Se o seguinte lhe soa familiar, então a produtividade tóxica está provavelmente mais próxima de si do que é aconselhável: a sensação de ter sempre de fazer alguma coisa, em casa ou no trabalho. Raramente se permite ter tempo para si próprio e períodos de descanso – e quando o faz, não se sente bem, como se estivesse a ser preguiçoso ao invés de estar simplesmente a descontrair. Uma azáfama constante na vida quotidiana. Há um termo para este mecanismo: produtividade tóxica. Resulta da procura de uma auto-otimização constante. É claro que não há nada de errado em querer constantemente melhorar – muito pelo contrário. No entanto, se esse esforço o levar numa direção que prejudique o seu próprio bem-estar, então obterá apenas o oposto do que realmente deseja.
“A produtividade tóxica descreve um esforço de produtividade constante que ultrapassa os limites saudáveis”, afirma a Dra. Eva Elisa Schneider. A psicóloga e especialista em saúde mental no local de trabalho: “As pessoas afetadas têm a necessidade de aproveitar ao máximo cada minuto do seu dia”. O problema é que, se não formos constantemente produtivos, rapidamente nos sentimos culpados ou inúteis, inquietos e sem conseguir realmente desligar. “O tempo inesperadamente desocupado, como quando uma reunião é cancelada, não é usado para uma pausa, mas é imediatamente preenchido por outras tarefas”. Mesmo os mais pequenos intervalos de tempo são preenchidos com tarefas para não “perder” tempo. As pessoas que são propensas à produtividade tóxica também tendem a ter uma rotina diária muito bem organizada. São tão bem organizadas que quase não há espaço para a espontaneidade ou para períodos de descanso. “Isto leva a que a sua própria saúde seja negligenciada e que os sinais importantes de exaustão não sejam levados a sério”, explica Schneider.
O que é a produtividade tóxica?
De acordo com a especialista, a produtividade tóxica não é um termo psicológico oficialmente reconhecido, mas descreve um fenómeno que se observa cada vez mais frequentemente na meritocracia atual, “semelhante a outros termos como high performer ou bateria social”. Mas como é que surge este tipo de auto-sobrecarga – qual é a origem do impulso ou da crença de que é preciso ser sempre produtivo? “Normalmente, os fatores internos e externos estão associados: as pessoas que têm tendência para se excederem são muito perfeccionistas e têm também interiorizadas crenças de que não suficientemente boas ou que não fazem o suficiente entram mais rapidamente numa compulsão de produtividade”, explica a psicóloga. Se a isto se somarem condições desfavoráveis, como uma carga de trabalho objetivamente elevada, “cria-se um cocktail pouco saudável”. Assim, estas pessoas têm uma dificuldade visível em fazer menos em fases menos ocupadas, porque se instala uma espécie de efeito de habituação. Quase que não se permitem pausas, mas tentam continuar a satisfazer as suas exigências interiores, diz Schneider.
Como a produtividade tóxica e as redes sociais estão ligadas
Atualmente, muitas coisas são tóxicas, especialmente online. Não é de admirar: muitos fatores diferentes podem ter um efeito tóxico no corpo ou na alma: as pessoas erradas, ambientes injustos, sobrecarga pessoal e crenças falsas. Mas que papel desempenham as normas sociais e a influência das redes sociais no desenvolvimento da produtividade tóxica? “O mundo brilhante das redes sociais contribui para que as pessoas se comparem mais com as outras e, por conseguinte, se coloquem sob maior pressão ou se sintam inferiores”, diz a especialista. Mas também existem fatores de desencadeamento no mundo real: os empregos em que os resultados não são imediatamente visíveis também podem ser arriscados para as pessoas com tendência para a produtividade tóxica. “As pessoas afetadas tentam então ‘exibir’ pelo menos uma pequena parte da sua produtividade, mesmo que seja normal que os resultados do seu trabalho demorem algum tempo”. O sentimento de ter de estar constantemente disponível e os típicos lemas como “Work Hard Play Hard” ou “No Pain No Gain” também contribuem para que as pessoas não queiram aceitar as flutuações normais de desempenho e ignorem os seus sinais de saúde.
Produtividade tóxica: quem é particularmente suscetível
A psicóloga afirma: “Os perfecionistas e as pessoas que têm grandes expectativas em relação a si próprias são particularmente suscetíveis a esta situação. Especialmente quando se deparam com um ambiente que exige muito delas. “Estas pessoas costumam ter elevados padrões de desempenho e baseiam a sua autoestima nos seus sucessos profissionais”. As pessoas que ocupam cargos de gestão também são muito suscetíveis a esta situação devido à elevada pressão para obter resultados. O mesmo se aplica aos jovens em início de carreira, que estão altamente motivados e sentem que têm de provar o seu valor acima de tudo. “Isto torna-os mais suscetíveis de ultrapassar os seus limites”, diz a Dra. Eva Elisa Schneider.
Os efeitos (negativos) na vida pessoal e profissional
Se o corpo não consegue realmente acalmar-se durante um período de tempo, isso acaba por se tornar claramente visível. De acordo com a psicóloga, os problemas de saúde surgem no contexto de uma produtividade tóxica, que pode ser muito diversificada. A nível psicológico, podem surgir sinais típicos de stress, como pensamentos precipitados, insensibilidade emocional, irritabilidade, tensão, inquietação, sentimentos de vergonha e de culpa, explica. “Por norma, estes são acompanhados de sintomas físicos, como perturbações do sono, dores ou problemas digestivos”. Muitos doentes encontram-se neste ciclo durante anos e, muitas vezes, aceitam estes sintomas como algo normal, porque dificilmente conhecem outra forma – um estado perigoso, porque: “O stress persistente pode levar a problemas psicológicos graves, como o esgotamento, a depressão ou ataques de pânico”. Na vida privada, é comum também se verificarem conflitos interpessoais porque, por exemplo, os parceiros, os hobbies ou os contactos sociais são negligenciados.
“Para um bom desempenho é necessário o não desempenho!”
Mas isso não é tudo, porque, ao contrário do que se possa pensar, ser produtivo a toda a hora não leva a um aumento da produtividade. De acordo com Schneider, o que acontece é exatamente o contrário. “As pessoas afetadas passam permanentemente para o modo de sobrevivência, o que as torna menos criativas, mais propensas a erros e menos concentradas”, explica. “Ninguém dá o seu melhor todos os dias. Também vemos isto no desporto de elite: mesmo com o melhor treino, há flutuações no desempenho”. Schneider afirma também que um bom desempenho requer um não desempenho: “As pausas e as fases de recuperação são essenciais para uma produtividade sustentável”. No entanto, as pessoas que só se sentem valiosas através da produtividade acham que esta descontração é tudo menos fácil. “Para elas, este é muitas vezes um estado desagradável, porque já não estão habituadas a desligar o seu sistema nervoso”. Por isso, algumas pessoas têm de reaprender a fazer pausas, de forma consciente e meticulosa.
Como se pode proteger?
De acordo com Schneider, é importante desenvolver uma relação saudável com a produtividade. Isto significa pensar em quantas tarefas têm de ser concluídas num determinado período de tempo – e fazê-lo de forma realista. Ao mesmo tempo, deve planear as pausas e as fases normais e menos produtivas da vida quotidiana. “As pausas regulares são obrigatórias, mesmo que sejam apenas pequenas pausas durante as quais não se faz nada, exceto espreguiçar-se um pouco, respirar fundo, preparar uma chávena de chá ou simplesmente olhar para o horizonte por um momento”, explica o psicólogo. A longo prazo, também é aconselhável fazer coisas na vida em que não se tem de alcançar nada ou “trabalhar para fora”, mas que se fazem apenas por prazer. Podem ser hobbies criativos ou longas caminhadas. As técnicas de atenção plena podem também ajudá-lo a estar presente no momento e (finalmente) a tornar-se mais consciente das suas próprias necessidades de saúde. “As pessoas precisam de aprender que não fazer nada e não conseguir nada é bom para elas e é um contrapeso benéfico para a vida quotidiana orientada para o desempenho”.
Traduzido do original, disponível aqui.
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