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Quando ele é ela

06 Apr 2018
By Mónica Bozinoski

Depois de 007 no feminino e do antecipado Ocean's 8, chegou a vez de Steven Spielberg anunciar que o seu famoso arqueólogo pode vir a ser uma famosa arqueóloga. As mulheres de Hollywood estão a abalar a sétima arte com movimentos ativistas como Time's Up e #MeToo, mas passará a mudança por Jane Bond ou Indiana Joan?

Depois de 007 no feminino e do antecipado Ocean's 8, chegou a vez de Steven Spielberg anunciar que o seu famoso arqueólogo pode vir a ser uma famosa arqueóloga. As mulheres de Hollywood estão a abalar a sétima arte com Time's Up e #MeToo, mas passará a mudança por Jane Bond ou Indiana Joan?

O elenco feminino de Ocean's 8 © 2018 Warner Bros.

Time's Up, #MeToo, Wage Gap - somente no último ano, Hollywood fez nascer mais movimentos ativistas do que blockbusters. A passadeira vermelha tornou-se palco de protesto. As atrizes vestiram negro. O pin do movimento Time's Up tornou-se o acessório da temporada. Oprah Winfrey foi reconhecida com o Cecil B. DeMille Award, proporcionando um dos momentos mais emotivos da noite dos Golden Globes deste ano. Frances McDormand, reconhecida com o Óscar de Melhor Atriz pelo seu papel em Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, concluiu o seu discurso de vitória na 90ª edição da cerimónia com um pedido a todas as mulheres nomeadas. "Levantem-se. Olhem à vossa volta. Todas temos histórias para contar". 

 

No tardio despertar de Hollywood, estas histórias não incluiam detalhes sobre a escolha do vestido. Não incluiam detalhes sobre o filme, a personagem ou os futuros projetos cinematográficos. Não incluiam o tão clássico "não posso revelar nada sobre a segunda temporada". Estas histórias eram outras - histórias de assédio sexual, de abuso, de desigualdade, de discriminação, de disparidades de pagamento. Estava claro que as figuras femininas do cinema tinham muito a dizer, e não iam parar aqui. O momento era agora e pedia uma mudança dramática em Hollywood, dentro e fora do grande ecrã. 

Em 2015, Daniel Craig chocou os fãs do espião mais famoso do mundo ao afirmar que a sua aventura como 007 iria terminar com o filme Spectre. Os dados não tardaram a ser lançados, com apostas em Tom Hiddleston, Idris Elba e Tom Hardy como fortes concorrentes ao lugar. Tudo mudou quando o Daily Mail avançou com a notícia de que a atriz Olivia Colman iria assumir o papel de 007. Aquilo que era apenas uma partida do Dia das Mentiras lançou a chama para uma discussão acessa - e se James Bond fosse Jane Bond? O filme já contava com figuras femininas poderosas como M e Moneypenny, porque não uma mulher no lugar de 007? Daniel Craig concordava com a possibilidade e as atrizes Emilia Clarke e Priyanka Chopra colocaram as odes a seu favor.

Mas nem toda a gente saltava de alegria com a imagem de uma mulher ao serviço de Sua Majestade. Durante a promoção de Spectre, Monica Belluci declarou que, apesar de Jane Bond poder ser uma boa surpresa, não estava pronta para ver uma mulher assumir um papel tão icónico como o de James Bond. O ator Christoph Waltz, que dá vida à personagem Blofeld no mesmo filme, chamou à ideia um "autêntico disparate". Rachel Weisz partilhava da mesma opinião. Em entrevista ao The Telegraph, a atriz britânica confessou não ver qualquer benefício em Jane Bond. "As mulheres são tão fascinantes e interessantes, e merecem as suas próprias histórias", afirmou. 

Depois de dois longos anos de especulação, Daniel Craig pôs fim ao renhido combate James vs Jane em entrevista ao The Late Night Show com Stephen Colbert, revelando que iria voltar para um último filme como 007. Mas o debate sobre figuras femininas em papéis tradicionalmente masculinos estava longe de terminar, colocando no centro da questão a defesa do feminismo, a igualdade de género e a missão de provar que as mulheres conseguiam assumir, tão bem ou melhor, papéis tradicionalmente masculinos. 

Poucos meses depois da entrevista de Craig, o mundo parou para ver as primeiras imagens de Ocean's 8, o antecipado novo filme da saga Ocean's Eleven, protagonizada por Georgle Clooney, Matt Damon e Brad Pitt. Mas algo estava diferente - o elenco, originalmente masculino, era agora a imagem do girl squad perfeito. Sandra Bullock, Cate Blanchett, Rihanna, Mindy Kaling, Sarah Paulson, Awkwafina, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway nos papéis principais. Sem surpresa, a escolha do elenco exclusivamente feminino dividiu opiniões. O novo capítulo, com data de lançamento prevista para junho deste ano, não tardou a ser comparado ao remake de 2016 do clássico filme Ghostbusters, onde Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Kate McKinnon e Leslie Jones assumiram o comando do famoso grupo de caçadores de fantasmas. 

Mais recentemente, em entrevista ao jornal The Sun, Steven Spielberg confirmou que o quinto filme de Indiana Jones será o último de Harrison Ford. Mas as aventuras do famoso arqueólogo não vão ficar por aqui, e já correm rumores de que Chris Pratt poderá ser o próximo ator a assumir o papel de Indiana Jones. No entanto, o realizador afirmou que está pronto para dar "um novo rumo" à personagem, e não coloca de parte a possibilidade de vermos uma mulher no papel. "Teria de mudar o nome de Jones para Joan", disse ao The Sun. "E não haveria nada de errado com isso". 

No atual panorama de Hollywood, queremos ver mais histórias sobre mulheres inspiradoras, queremos ver o poder com cunho feminino, queremos sentir que a igualdade não é uma utopia, mas sim uma realidade. Mas será que precisamos de ver figuras femininas assumir a pele de homens icónicos do Cinema para saber que a mudança é possível? Filmes como Hidden Figures, The Post, Wonder Woman e Tomb Raider, para nomear apenas alguns, são prova de que as mulheres não precisam de ser espiões britânicos, caçadores de fantasmas ou arqueólogos para serem poderosas. Hoje, mais do que nunca, precisamos de heroínas reais, que nasçam da originalidade, da consciência do agora, e da missão de não deixar a conversa morrer. 

O futuro de James Bond e Indiana Jones depois de Daniel Craig e Harrison Ford permanece um mistério, mas citando Oprah Winfrey, "um dia novo está no horizonte". 

Mónica Bozinoski By Mónica Bozinoski

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