Quando o streetwear encontra o sportswear de Ricardo Andrez, podemos dizer que se trata de um final feliz. Quando a isso tudo acrescentamos a sustentabilidade, é coisa para chegar às bodas de ouro.
Quando o streetwear encontra o sportswear de Ricardo Andrez, podemos dizer que se trata de um final feliz. Quando a isso tudo acrescentamos a sustentabilidade, é coisa para chegar às bodas de ouro.
Ricardo Andrez
Ricardo Andrez
Entrar na sala de desfiles onde Ricardo Andrez vai apresentar uma coleção, é entrar numa sala onde tudo pode acontecer. As criações do designer portuense vão conversar connosco e contar-nos histórias, de sustentabilidade, de sátira, de ironia. Das histórias que já nos contou - e das que tive oportunidade de ver in loco - é importante destacar a sátira social que fez ao uso ignorante de determinadas marcas por serem socialmente aceites (outono/inverno de 2018), o bug do novo milénio (primavera/verão 2019), a saturação da indústria (outono/inverno 2019), a sustentabilidade (primavera/verão 2020) e a identidade (outono/inverno 2020).
Andrez está cada vez mais consciente e isso reflete-se nas propostas que tem vindo a apresentar. A utilização de deadstock para as suas coleções tornou-se numa realidade a partir da coleção estival de 2019 e, a partir desse momento, todas as coleções que apresenta têm peças que são confecionadas com restos de tecidos. “Os nossos pequenos passos são a produção local, deadstock e produção limitada. Parece-me o caminho mais óbvio a seguir, totalmente desafiante e divertido também!”, contou o designer ao Terramotto.com. Ricardo Andrez é o exemplo de que é possível adotar uma postura mais sustentável, sem precisar de comprometer a estética ou o ADN da marca.
A incursão do jovem portuense na Moda dá-se no liceu, quando começou a analisar e a refletir a maneira de como as pessoas se vestiam. O passo seguinte foi dado quando se escreveu num curso profissional de Moda na Cooperativa Árvore e depois prosseguiu a formação na Citex, atualmente Modatex. Não terminou o estudos, foi viajar durante dois anos, e quando regressou ao Porto ingressou na indústria através da área de produção de Moda. Em 2008 enviou o projeto de uma coleção para um concurso de novos designers em Madrid. Venceu o prémio de melhor coleção e pouco tempo depois estava a apresentar na Semana de Moda de Barcelona e Madrid. Dois anos depois de ter dado o primeiro passo, entra na plataforma LAB da ModaLisboa, onde permaneceu até 2013, até conseguir um lugar na passerelle principal da Semana de Moda.
Se alguma vez pensou em desistir e mudar de área? “Não,” responde-nos Ricardo. “O momento mais frágil penso que foi na última grande crise económica, mas mesmo assim desistir nunca esteve no meu pensamento.” Respiramos de alívio. Se não fosse a perseverança de Andrez, não teríamos a oportunidade de ver modelos cobertos da cabeça aos pés com fatos de licra (Zentai) - primavera/verão 2017. E quais são os momentos em que percebe que tomar esta decisão foi o melhor que fez? “Desde o final de cada apresentação a mensagens de clientes quando recebem as peças, esses momentos fazem o trabalho e o esforço valer a pena.”
Nesta série de entrevistas do Project: Vogue Union, temos perguntado aos designers se pudessem voltar no tempo para refazer uma coleção se o fariam, Ricardo diz-nos que não, “mas seria um ótimo exercício de design refazer a minha primeira coleção, por exemplo. Com base no mesmo conceito seria à partida diferente do que desenvolvi, outro ponto de vista, outra maturidade e menos pressão por ter sido a primeira.” Agora ficámos curiosos. O ADN da marca homónima do designer é bem perceptível: o sportswear encontra o streetwear. Mas qual será a peça que melhor representa a marca de Andrez? “Não consigo eleger uma peça, acho que é o conjunto delas que determinam o meu ADN, a minha identidade. Muitas vezes pode ser apenas um detalhe que determine o meu ponto de vista.”
Esta pandemia global fez-nos parar, pensar e questionar. E uma das questões que não nos sai da cabeça é: Será a união na indústria da Moda possível? Ricardo responde: “É claramente possível e o único caminho a tomar. Um designer não evolui sozinho, precisamos de dialogar para chegarmos a questões e respostas pertinentes. Penso que 2020 veio provar isso, precisamos de tudo e todos ao nosso redor para trabalhar e traçar objetivos.” Por isso, não se admire se no futuro Andrez colaborar com Nicole, Buchinho e Filipe Oliveira Baptista, os três designers que escolheu caso para fazer uma colaboração (#fingerscrossed).
“Quem são as pessoas que materializam as suas peças?” Esta é a pergunta que o designer gostava que lhe fizessem numa entrevista. Não precisa de procurar muito pela resposta. “A Angela, o Pedro, a D. Rosa, a Fátima, a D. Idalina, o Sr. Fonseca, a Manuela, o Fábio, a Sílvia, o Daniel.” Não lhe perguntem é quem é o seu público alvo - a pior pergunta que lhe podem fazer.
As peças de Ricardo Andrez estão à venda na sua loja online, nas Lesfilles, Auné e na Scar-Id.
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