Da paixão que começou em miúdo à apresentação da primeira coleção na ModaLisboa, em 2006, Ricardo Preto tem cimentado um percurso onde os limites, sejam eles geográficos ou criativos, não existem.
Da paixão que começou em miúdo à apresentação da primeira coleção na ModaLisboa, em 2006, Ricardo Preto tem cimentado um percurso onde os limites, sejam eles geográficos ou criativos, não existem.
©Ricardo Preto
©Ricardo Preto
Natural de Brejos de Azeitão, Setúbal, Ricardo Preto formou-se em Arquitetura pela Universidade Lusíada, em Lisboa, mas só depois de frequentar um curso de corte e costura com a mestre Maria Emília Sobreira e um workshop de handbags na Central Saint Martins School of Arts, em Londres, é que tomou a decisão de seguir a área da Moda. “Não começou há muito tempo (não quero sentir-me ‘old school’), mas tem sido um percurso intenso e hoje sou um profissional bastante completo”, diz o criador português, que deus os primeiros passos a desenhar uma coleção para a Amarras, a criar malas para a marca espanhola Perteguaz, e a idealizar chapéus e acessórios para os designers Dino Alves e Osvaldo Martins, quando lhe perguntamos como tudo começou. “Em 2006 fiz a minha primeira coleção com o meu nome para a ModaLisboa, mas na realidade começou muito antes, era muito miúdo, vestia as minhas amigas e primas para passagens de modelos, concertos, peças de teatro que fazíamos juntos.”
De miúdo a graúdo, Ricardo Preto é hoje diretor criativo da Ricardo Preto exclusively for Rustan’s e U by Ricardo Preto for Rustan’s, desenhando peças para mulher e homem, assim como sapatos e acessórios, disponíveis no mercado asiático. Pelo caminho da internacionalização, e a par com a idealização das suas coleções, o designer tem trabalhado em produção de Moda para diversas publicações nacionais de Moda e lifestyle, e o seu currículo conta ainda com parcerias criativas com várias marcas, trabalhos de customização com nomes como Levi’s, Nike e Pepe Jeans, a criação do guarda-roupa da ópera Paint Me, uma coprodução São Carlos e Culturgest, encenada por Rui Horta e estreada em 2010, e o desenvolvimento de várias coleções com a Meam Style, entre 2010 e 2015.
“(...) Não deixo de estar apaixonado pelo que faço, nem um pouco.”
Ricardo Preto, primavera/verão 2020 ©Ugo Camera
Ricardo Preto, primavera/verão 2020 ©Ugo Camera
Com tantos marcos ao longo dos anos – e os desafios que cada um deles naturalmente representa –, houve algum momento em que pensou desistir de tudo e mudar de área? “Por vezes acontece, e é estranho porque não deixo de estar apaixonado pelo que faço, nem um pouco”, diz Ricardo Preto. “Os desafios na coordenação de equipas vão acumulando com o stress diário de ter que corresponder em vendas, que são fruto de muitas áreas como compras, VM, marketing, entre outras. Depois tudo se supera e parece exagerado esses pensamentos de abandono.” Ainda assim, confessa o criador, “fantasio muito em estar nu de jilaba a fazer cerâmicas e tapetes”.
Sobre o reverso da questão – as alturas em que pensou “ainda bem que tomei esta decisão” –, Ricardo Preto esclarece que, até hoje, conseguiu sempre uma evolução entre projetos que fazem dele uma pessoa com boa dose de contentamento”. “Por exemplo, quando fui nomeado diretor criativo da Rustan’s, que é uma department store, fiquei muito feliz, apesar de ter noção dos desafios gigantes que vinham agarrados ao novo cargo. Quando penso nas dificuldades que tinha na construção de ideias e nas coleções e hoje idealizo/faço uma coleção (coordenada com várias entregas ao longo de uma estação) em menos de uma semana (sem perder qualidade nenhuma), para mim isso é uma evolução de australopiteco alegre para sapiens sapiens muito satisfeito.”
Quando perguntamos a Ricardo Preto se refaria alguma das suas coleções, o criador confessa que só a ideia arrepia. “Nunca uma coleção inteira, isso nunca aconteceu”, diz, “mas houve ao longo de todos este tempo algumas peças que retiraria por considerar que estavam a mais e não contribuíram para uma leitura clara da ideia daquela coleção”. “Mas também existem várias coleções (dentro da mesma estação), a do desfile que apresentamos numa Semana de Moda e a do showroom, e assim a vida complica-se, porque são edições diferentes... Um criador tem sempre várias oportunidades de errar.”
“Um criador tem sempre várias oportunidades de errar.”
Ricardo Preto, outono/inverno 2020 ©Ugo Camera
Ricardo Preto, outono/inverno 2020 ©Ugo Camera
Sobre as suas mais recentes coleções – a primavera/verão 2020 e o outono/inverno 2020 –, o criador confessa que gostou particularmente desta coleção estival. “Fiquei muito contente com as cores pastel misturadas com cores escuras, as malhas estavam lindas (minha rica Aranha que trabalha comigo desde o início da marca – Obrigado! Obrigado!), as eco peles em tops, bermudas e casacos, que agora com este verão meio doido parece feito à medida, as túnicas, as bolsas têm sido um sucesso”, explica Ricardo Preto, acrescentando que esta estação quente marcou a introdução oficial do conceito de cápsulas upcycling, neste caso aplicado aos ténis. “Queremos repetir sempre que pudermos. O intuito é arranjar colaborações com marcas portuguesas que queiram dar nova vida e inventário parado, em vez de produzirmos mais.”
Este espírito de sustentabilidade e conceito de upcycling está também presente na próxima estação fria de Ricardo Preto, “com uma mini cápsula armário patchwork com t-shirts, jeans e casacos”. Para além disso, explica o criador português, “demos continuidade às eco peles, desta vez com vestidos e capas que poderão ser misturados com as peças do verão”. A ideia, diz, “foi dar continuidade/complementaridade a algumas peças entre as duas estações”, que têm em comum o “eterno dilema entre fluidez e estrutura.”
“Embora apareça um nome que é o meu, eu sou apenas uma parte.”
©Dulce Daniel; ModaLisboa
©Dulce Daniel; ModaLisboa
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