Ó mar salgado, quanto do teu sal são hoje plásticos de Portugal.
Ó mar salgado, quanto do teu sal são hoje plásticos de Portugal.
Fotografia de Ricardo Abrahão. Vogue Portugal, outubro 2021.
Fotografia de Ricardo Abrahão. Vogue Portugal, outubro 2021.
Até o paraíso já tem lixo. É preciso viver debaixo de uma pedra para ainda não ter dado de caras com imagens que desolam qualquer amante do grande mar azul. Palhinhas, sacos de compras, escova de dentes… you name it, it’s there. As mais diversas formas de plástico têm chegado aos nossos oceanos a uma velocidade assustadora. Mas enquanto que todos estes objetos podem ser vistos e documentados, existe uma ameaça silenciosa cujo impacto não pode ser mais ignorado. Falamos dos microplásticos.
Segundo o glossário nascido da parceria entre a Condé Nast e o Centre for Sustainable Fashion, esta substância aparece sob a forma de “partículas de plástico com menos de cinco milímetros de tamanho”. Apesar de poder ter uma origem variada, há um consenso quanto à sua fonte primária. De acordo com a Ellen MacArthur Foundation, “20 a 35% dos microplásticos vê a sua origem nos tecidos sintéticos”. Estes passam para os oceanos após cada lavagem, tendo assim a nossa casa como ponto de partida. O restante advirá de outras formas de poluição associadas a microfibras, entre as quais se encontra a decomposição de embalagens de plástico.
© Getty Images
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Uma ação torna-se sempre mais forte quando sustentada por uma razão por isso, há que perceber as consequências dos microplásticos antes de tratar o problema. No fundo (não só da questão, como também do oceano), está o consumo destas partículas pela vida marítima que habita a nossa casa azul. Tal é prejudicial não apenas para os seres aquáticos, mas, de certa forma, para nós, nomeadamente a partir do momento em que estes entram na nossa cadeia alimentar. Para além disso, já foi comprovada a existência destas micropartículas na água que consumimos, seja esta de torneira ou engarrafada. Neste momento, os microplásticos já estarão dentro de nós. Faça uma pausa para respirar, o sentimento de eco-ansiedade é mútuo.
Foquemo-nos nos tecidos sintéticos. Essa revolução da indústria da Moda que, a longo prazo, parece ter trazido mais problemas do que respostas. Embora existam diferentes constituintes, uma grande parte das peças de origem sintética presente no nosso armário tem o petróleo como componente-mãe. É o caso do poliéster (atire a primeira pedra quem nunca comprou uma t-shirt cuja etiqueta grita “100% poliéster”). Ou, ainda, do nylon, este que é o material por excelência dos nossos biquínis e fatos de banho. Tendo em conta a sua composição, a lavagem da nossa swimwear resulta na libertação de partículas que podem ser tão poluentes quanto a decomposição de uma escova de dentes no oceano. Felizmente, nos dias de hoje já é possível encontrar soluções acessíveis para combater este problema.
Acima de tudo, há que pesar as nossas opções na hora da compra. A roupa de banho é, contrariamente a outras categorias de Moda, um setor onde os materiais naturais ainda não fazem parte do leque de oferta disponível. Apesar de já existirem marcas pioneiras que promovem a utilização de algodão orgânico e cânhamo como fibras para swimwear, estes ainda não revelam as mesmas propriedades características aos materiais sintéticos, particularmente ao nível da durabilidade. A luz ao fundo do túnel apareceu com o lançamento do Econyl. Mesmo que fabricado por mão humana, este tecido apresenta um mote de circularidade baseado na regeneração do nylon, possibilitando assim a criação de novos produtos sem a necessidade de produção de novas fibras. O que antes seria lixo nos oceanos pode agora ser luxo no nosso armário.
Em Portugal, já existem algumas marcas que têm a fibra de Econyl como o principal componente na produção de swimwear e são exemplo disso a Conscious, cujos biquínis são compostos por, pelo menos, 78% de nylon reciclado; ou ainda a Light Years Away que, para além de produtos de banho, revela ainda uma categoria de sportswear igualmente baseada na utilização de Econyl.
Conscious
Light Years Away
Outras soluções que vão à raiz do problema: as lavagens. Por muito óbvio que pareça, reduzir o número de lavagens é uma das ações mais eficazes no combate à incidência de microplásticos nos oceanos. Em primeiro lugar, optar por um ciclo de lavagens a temperaturas frias é mais ecológico não só por minimizar o gasto de energia, mas também porque reduz a libertação de microplásticos. Da mesma forma, a colocação de filtros nas máquinas de lavar capazes de remover as partículas que se soltam das nossas peças - plásticos, areia, cabelos, entre outros - é hoje uma realidade bem mais presente do que imaginamos (embora ainda distante de Portugal). Até à presença de tais filtros não se tornar numa constante nos nossos equipamentos domésticos, será sempre possível optar por soluções mais acessíveis. Sacos de lavagem de roupa, como é exemplo o Guppyfriend, que permitem proteger os nossos oceanos ao funcionar como uma rede de proteção em redor dos tecidos sintéticos. No final da lavagem, basta colocar os resíduos que ficarão agarrados ao saco no lixo comum.
© Guppyfriend
© Guppyfriend
O primeiro mergulho de verão fica sempre na memória. Ansiamos por sentir o pé na areia e o sal do mar no rosto, sem nunca pensarmos como essa alegria poderá ter os dias contados. Enquanto país costeiro, aprendemos a recolher dos nossos mares aquilo que de melhor nos podiam dar. Agora, é a nossa vez de cuidar e salvar os oceanos pode começar pelo nosso fato banho.
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