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New friends silver, old friends gold: a semana de Moda de Milão

04 Oct 2023
By Pedro Vasconcelos

A terceira paragem do fashion month foi totalizada pela profunda mudança numa das marcas mais importantes da Moda: a Gucci. Mas, mesmo que desprovidas do nível de atenção que esta angariou, marcas como Prada ou Bottega Veneta provaram a qualidade do design italiano.

Algo paira no ar. O ambiente de mudança é palpável. Não dá para tocar, e muito menos para cheirar, mas as marés do mundo da Moda estão a mudar. Despedimentos surpreendentes e novos nomes são trazidos à tona num fashion month pautado pela mudança. Esta transformação não tem cheiro, mas certamente tem cor: o vermelho cereja de Gucci, o novo (e velho) tom emblemático da casa italiana. Desde novembro do ano passado, quando a marca anunciou que Alessandro Michele iria ser substituído enquanto diretor criativo, que tudo o que qualquer fanático de Moda consegue pensar é o que vai acontecer na Gucci? A marca sempre se destacou por informar o público do que este queria antes ainda de o querer. A sensualidade de Tom Ford definiu os anos 90 e o maximalismo de Michele marcou a história da Moda para sempre. A marca é uma espécie de barómetro para o resto da indústria. O novo diretor criativo, Sabato de Sarno, tinha uma pressão gigante nos seus ombros. Qual seria a nova estética da Gucci? Numa palavra? Chique.

A coleção apresentada por De Sarno foi surpreendentemente minimalista, mas não da mesma forma que Ford tinha sido. A nova Gucci não é sexy, é elegante. Blazers, vestidos e saias em pele, casacos oversized: os tons neutros abriram a coleção. Mas minimalista não é sinónimo de aborrecimento. À medida que o desfile progrediu pequenos tops e vestidos A-line foram decorados com centenas de cristais com carteiras a condizer. Os acessórios foram obviamente fantásticos, não fosse essa a razão de ser da marca, fundada em 1921 para a produção de produtos em pele. Para lá das carteiras, também os sapatos se destacaram. Os loafers horsebit, um dos produtos mais famosos da Gucci, tiveram direito a um makeover através de plataformas gargantuescas e cores extravagantes. A coleção foi discreta, sofisticada com um toque de diversão. Inevitavelmente, os críticos (particularmente os das redes sociais) não apreciaram a docilidade da estreia de De Sarno. Não, não foi revolucionária como as de Ford ou Michele, mas claramente essa não foi a razão pela qual Sabato de Sarno foi contratado. O designer trabalhou durante mais de 14 anos na Valentino como diretor das coleções de pronto-a-vestir. Não é uma estrela de rock, não é um criativo prodígio, é um designer que sabe o que faz. E foi isso que provou com a sua primeira apresentação na Gucci: uma coleção relativamente dinâmica e certamente comercial.

Gucci
Imax Tree

Apesar do foco em Sabato de Sarno e a novidade que este representa, se há algo que a Semana de Moda de Milão nos provou foi que as marcas italianas são consistentes na sua qualidade. Para a sua coleção primavera/verão 2024, Miuccia Prada e Raf Simons, codiretores criativos de Prada, seguiram o embalo da coleção masculina apresentada em junho deste ano. Tal como nesta, a passerelle foi adornada de cascatas de slime que escorriam à medida que o desfile se desenrolava. O adereço não é meramente uma forma de capturar a atenção das redes sociais, é também uma forma de nos revelar a inspiração por detrás da coleção: um estudo sobre movimento. As semelhanças não foram sentidas apenas no cenário, também a roupa apresentou semelhanças. Blazers leves foram postos dentro de calções curtos. O desfile diferenciou-se do seu predecessor pela feminilidade do design. Um look em específico destaca-se como um dos melhores do mês inteiro: os carinhosamente apelidados jellyfish dresses (vestidos alforreca). Vestidos curtos em tons pastel foram mergulhados no que parecia ser uma espécie de chama, mas que na realidade eram camadas de organza de seda que dançavam à medida que as modelos desfilavam.

Prada
Imax Tree

Na Fendi, Kim Jones deu uma masterclass sobre elegância intemporal. Inspirado por Roma, tanto pela arquitetura como pelas mulheres da cidade, o designer criou uma coleção escultural. Com designs relativamente simples, a estrela foi certamente o color blocking. Ao combinar tons neutros com azuis e laranjas vibrantes, Jones provou que conhece a sua cliente. Os vestidos foram divertidos q. b., com uma sofisticação notável. O designer britânico desenvolveu um hábito de fazer referências frequentes a Karl Lagerfeld que, durante mais de cinco décadas, ocupou a sua posição. Esta estação não foi diferente, replicando o padrão geométrico de Lagerfeld de forma impecável. Os acessórios continuaram a narrativa da coleção: luvas curtas e saltos altos razoáveis conferiram uma feminilidade elegante.

Fendi
Imax Tree

Por falar em designers que são mestres em expandir as narrativas das suas marcas, Matthieu Blazy em Bottega Veneta foi uma das coleções mais triunfantes do mês. Inspirado no livro Pela Estrada Fora, de Jack Kerouac, as suas propostas para primavera/verão 2024 foram uma expansão da estética da marca. Com referências a diversas culturas (não se soem alarmes, estas não foram específicas o suficiente para gerar acusações de apropriação cultural), o designer provou ser capaz de inovar a já adorada imagem de Bottega Veneta. Vestidos repletos de pompons foram as peças mais instagrmáveis, mas foi nos looks mais simples que Blazy mostra a sua aptitude. Roupa formal em pele mascarada de outros tecidos foi uma continuação da sua exploração do material característico da marca em diferentes contextos.

Bottega Veneta
Imax Tree

Na Ferragamo, Maximilian Davis apresentou a sua terceira coleção, uma versão mais leve e divertida da estética da marca italiana. Nos seus primeiros dois desfiles, o designer americano focou-se em coleções neutras com destaques de cor, notoriamente o vermelho para a sua estreia. Nesta estação a paleta expandiu-se: rosas vibrantes, verde sálvia, azules cerúleos. A amenização não foi exclusiva da Ferragamo, também Versace apresentou uma coleção mais suave, distanciando-se da sua sensualidade típica a favor de referências à década de 60. Vestidos A-line, laços microscópicos em cima de bouffants colossais: todos saídos diretamente de Laca (1988). A mudança que se sente na Versace não é apenas estética. Há cerca de um mês, a empresa mãe da marca italiana, Capri Holdings, foi comprada por outro conglomerado de luxo, Tapestry, dona de Coach, Kate Spade e Stuart Weitzman. Será a mudança estética indicativa de algo mais? É provável que não.

Versace
Imax Tree

Uma menção especial para a Sunnei, que continua a provar que é mestre em desfiles incomuns. Na estação passada, as modelos desfilaram num palco no final do qual mergulharam (literalmente) na audiência. Esta estação a marca italiana decidiu provar que não tem medo dos críticos, oferecendo aos convidados diferentes números para classificarem cada look da passerelle. A Attico também se destacou, não por truques, mas porque foi o primeiro desfile que a marca organizou, uma boa estreia, apenas ofuscada pela novidade da Gucci. Só nos resta Paris, o destino final do fashion month, berço das maiores maisons da indústria. Apertem os cintos, aproxima-se o clímax da estação.

Sunnei
Imax Tree

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