Lifestyle  

Spring Fever

15 Apr 2024
By Pureza Fleming

Et voilà, a primavera! Quando os dias parecem alongar-se, as flores desabrocham e a vida desata a acontecer-nos. A par, o brotar de um arrebatado desejo: carnal, sexual, íntimo. Chamemos-lhe o que quisermos, só não neguemos que existe. Dêmos as boas vindas à temporada da spring — hot hot — fever.

Com data marcada para 20 de março, a chegada da estação mais romântica do ano é sempre um motivo de celebração. Depois do frio e da sórdida escuridão do inverno, a primavera surge para nos intimar a viver a vida. Os dias tornam-se mais longos, as árvores cobrem-se das mais belas flores que a natureza tem para oferecer, favorecendo a mais tristonha das ruas. Pássaros cantam felizes e adoráveis joaninhas cumprimentam-nos à janela. Tudo para que tenhamos a certeza absoluta: chegámos oficialmente à primavera.

Então, despimo-nos de layers e mais layers de roupa, corpo ao léu, uma ânsia de “pôr os pauzinhos ao sol”, respirar fundo e com gosto as novas fragrâncias que pairam na atmosfera. Com sorte apaixonamo-nos ou, melhor ainda, caímos de quatro. Também pode acontecer querermos fazer com os outros “o que a primavera faz com as cerejeiras”, como se lembrou de imaginar Pablo Neruda nos seus Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada.

Em suma, deixamo-nos encantar pelos encantos da vida. É certo que pode haver algo de primitivo nesta coisa de desejarmos envolvermo-nos física e sexualmente nesta época específica do ano. Mas, ao mesmo tempo, este facto está longe de ser estranho. Tal como as aves e as lontras acasalam na primavera, também os impulsos biológicos humanos, incluindo a procriação, estão diretamente ligados às estações, conforme indica um estudo de 2013. “Com a chegada da primavera ou do calor, animais que hibernam revivem e saem pelo mundo em busca de comida e, em alguns casos, de parceiros”, observa a National Wildlife Federation. “O sol e a luminosidade da primavera melhoram o nosso humor e a nossa disposição podendo, por isso, potenciar o desejo”, corrobora a sexóloga Vânia Beliz. “O frio e os dias mais cinzentos do inverno podem afetar a nossa disposição limitando o interesse sexual.

É na primavera que a maior parte dos animais se reproduz, uma vez que longe das temperaturas mais baixas há uma maior probabilidade de haver alimento e de fazer crescer as suas crias”, explica. O clima é, assim, elemento catalisador. Se, por um lado, sabemos da importância da vitamina D — que nos chega (também) através do sol —, por outro, uma maior exposição à luz solar faz aumentar a produção de serotonina, o neurotransmissor que eleva o humor. E depois? Depois o que se passa é que pessoas felizes tendem a ficar (mais) excitadas. Um clima mais agradável incentiva-nos a sair mais, a socializar mais, quem sabe, a conhecer potenciais novos parceiros.

Em simultâneo, a chegada da primavera significa deixarmos para trás as intermináveis camadas de roupa a que a estação mais fria tanto obriga — e tal sucede seja no corpo, seja na cama. E se pele à mostra significa mais tensão sexual, o oposto também é real. “Muitas pessoas têm graves problemas de climatização nas suas casas, o que faz aumentar o desconforto e afastar a intimidade. É no frio que aparecem os lençóis polares, os pijamas felpudos, as meias… Tudo elementos que não parecem ser muito ‘amigos’ da libido e convidativos ao sexo. Apesar das cenas românticas à lareira, o inverno parece perder para as outras estações do ano no que diz respeito ao desejo e frequência sexual.” 

Contas da eletricidade à parte, também é verdade que não temos de estar sempre prontas e disponíveis para ter sexo. “Se existe uma época do ano em que sentimos que precisamos de nos recolher, que o façamos. Isso não tem mal algum desde que não afete o casal. O importante é comunicar. Muitas vezes, o inverno faz-nos ter menos práticas de autocuidado, deixamos de fazer a depilação, cuidar dos pés, de dar atenção a um corpo escondido… Este afastamento do próprio cuidado também pode limitar o desejo. Não temos de o fazer, mas se compararmos com o verão em que o corpo se mostra, o autocuidado parece, também ele, hibernar no inverno.” Facto é que, ao longo dos anos, psicólogos têm vindo a examinar como é que as estações afetam a saúde mental das pessoas. Existe, por exemplo, o transtorno afetivo sazonal (TAS), um tipo de depressão que acontece no outono e/ou no inverno que provoca sintomas como tristeza, sono excessivo, aumento do apetite e dificuldade de concentração. O tratamento, por sua vez, inclui terapia de luz (fototerapia), psicoterapia e medicamentos. Os mesmos estudos confirmam que há evidências de que algumas pessoas — com ou sem o transtorno afetivo sazonal — têm melhorias no humor e níveis de energia aumentados na primavera. Dan Oren, um psiquiatra que estuda o transtorno afetivo sazonal, afiança que “pessoas com TAS, por definição, melhoram na primavera.” Estas também podem notar que “os seus episódios são menos graves durante períodos de luz intensa [e] bom tempo no inverno, ou durante uma visita a um clima ensolarado”, remata. Alguns especialistas argumentam que o TAS está relacionado com os ritmos circadianos atrasados, já outros afirmam que é um pouco mais complexo. Independentemente do que seja, parece que a falta de exposição à luz intensa (como é o caso da luz solar) é um contributo-chave para o TAS.

E, se estamos deprimidos, como é que nos vamos relacionar? Um outro estudo concluiu que mulheres e homens funcionam de maneira diferente quando se trata do desejo sexual, com as mulheres a atingir o auge de atividade na primavera e os homens no outono. Uma equipa de pesquisa da Universidade de Tromso, no Norte da Noruega, concluiu ainda que o desejo sexual feminino é determinado pela luz e pelo sol: “As mulheres seguem a luz no que diz respeito ao interesse sexual, mas, surpreendentemente, os homens não”, refere Arne Holte, da Universidade de Tromso (UIT), à emissora NRK (empresa de radiodifusão norueguesa). Holte estudou a conexão entre o desejo sexual e a luz, tendo contado com jovens em Tromso, Alta e Hammerfest no âmbito da investigação, e concluiu que abril e maio são os meses em que as mulheres demonstram um interesse sexual mais elevado. De acordo com a sexóloga Bente Træen, também daquela Universidade, a sexualidade dos homens é considerada mais estável, enquanto a das mulheres é mais afetada pelo ambiente e pela menstruação. Enquanto os homens produzem testosterona o tempo todo, os hormônios femininos que afetam o desejo sexual aumentam à medida que a quantidade de luz do dia aumenta. “Quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejeiras”, encerra o Poema 14 do livro Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada, do poeta chileno. Publicado em 1924, observa-se com nitidez, em especial nesta frase, uma celebração do amor romântico onde se cruzam o erotismo e o enaltecer do corpo da mulher com a paixão que Neruda nutria pela natureza. E nada disto é por acaso. 

Publicado originalmente no The Blossom Issue, de março de 2024, disponível aqui.

Pureza Fleming By Pureza Fleming

Relacionados


Casamentos  

O vestido de noiva vermelho é a tendência nupcial mais inesperada de 2025

21 Feb 2025

Moda  

High Noon | Editorial de Moda

21 Feb 2025

Lifestyle  

Paixão ou propósito? Como encontrar sentido na vida profissional

20 Feb 2025

Moda   Compras  

14 acessórios de cabelo para complementar qualquer look

20 Feb 2025