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“Superfine: Tailoring Black Style” é a exposição de 2025 do Costume Institute

09 Oct 2024
By Nicole Phelps

Desconhecido (americano). (Retrato de Estúdio), 1940s-50s. Processo de prata coloidal. Museu Metropolitano de Arte. Nova Iorque, Twentieth Century Photography Fund, 2015 (2015.330)

Há já alguns anos que o dandismo negro contemporâneo se tem tornado um ponto de destaque na passadeira vermelha da Met Gala.

Lembremo-nos de Billy Porter no seu conjunto Sun God dos The Blonds para a exposição Camp de 2019, em A$AP Rocky com uma colcha de retalhos ERL por cima do seu fato de tafetá de seda na exposição de 2021, In America: A Lexicon of Fashion, ou em Lil Nas X num conjunto Luar com cristais na exposição Sleeping Beauties o ano passado.

Anunciada hoje, Superfine: Tailoring Black Style, a próxima exposição do Costume Institute no Metropolitan Museum of Art, terá como tema o dândi negro e irá examinar a importância do vestuário e do estilo para a formação das identidades negras na diáspora atlântica.

É a primeira exposição do Costume Institute a centrar-se exclusivamente no vestuário masculino desde Men in Skirts de 2003, e também a primeira a contar com um curador convidado desde que Andrew Bolton se tornou Curador Responsável. Monica Miller, Professor e Presidente de Estudos Africanos no Barnard College da Universidade de Columbia, irá analisar a figura do dândi negro desde as suas primeiras representações na arte do século XVIII até à forma como este movimento se apresenta atualmente no cinema e passerelles. A exposição é inspirada no seu livro de 2009, Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity, no qual Miller estabelece o dandismo negro como uma construção estética e política.

Indumentária americana, Cortesia do Centro de História e Cultura de Maryland, oferta de Miss Constance Petre, 1946.3.3a-c.
© The Metropolitan Museum of Art

Dandismo é uma atenção excessiva ao vestuário. No entanto, antes do comunicado desta manhã, Miller definiu-o como “vestir-se bem e com sabedoria”. O dandismo negro pode ser descrito como “uma estratégia e uma ferramenta para repensar a identidade, para reimaginar o ‘eu’ num contexto diferente. Para ultrapassar os limites – especialmente durante o tempo da escravatura, para ultrapassar os limites do que é considerado um ser humano”. A história do dandismo negro apresentada na exposição apresenta “ilustrar a forma como os negros deixaram de ser escravizados e estilizados como artigos de luxo, adquiridos como qualquer outro indicador de riqueza e status, para se tornarem indíviduos autónomos e influenciadores globais”. A exposição aborda a questão argumentada por Miller e explora a possibilidade do dândi negro ter originado no espaço entre a hiper-visibilidade (na passadeira vermelha, por exemplo) e a invisibilidade (em instituições como o Met).

Na sequência do movimento Black Lives Matter, o Costume Institute começou a reconhecer as realidades que as narrativas da Moda americana negligenciaram no passado. Desde 2020, cerca de 150 peças de designers BIPOC foram adquiridas, algumas das quais aparecem em Superfine. “Sinto que a exposição marca um passo realmente importante no nosso compromisso de diversificar as nossas exposições e coleções, bem como corrigir alguns dos preconceitos históricos na nossa prática curatorial”, afirma Bolton. “Trata-se de tornar a Moda no Met uma porta de entrada para o acesso e a inclusão”.

Foi através da sua pesquisa para a exposição In America: A Lexicon of Fashion, em 2021, que Bolton ficou a conhecer o trabalho de Miller. “O interessante sobre o dandismo negro é que não se trata apenas de uma identidade”, disse. “Obviamente, temos pessoas como Iké Udé, o fotógrafo e artista que se auto-identifica como dândi [Udé é consultor especial da exposição], mas é também um conceito”, elaborou Bolton. “Penso que, hoje em dia, muitos designers negros exploram as diferentes modalidades que o dândi negro representa – aspetos como a liberdade, a dissonância, a teatralidade”.

Esquerda: Fato Zoot, americano, década de 1940; Alfred Z. Solomon-Janet A. Sloane Endowment Fund, 2024 (2024.2a, b). Direita: Fato, americano, 1939; Cortesia de Benny Reese, Reese's Vintage Pieces.

Esquerda: Fato Zoot, americano, década de 1940; Alfred Z. Solomon-Janet A. Sloane Endowment Fund, 2024 (2024.2a, b). Direita: Fato, americano, 1939; Cortesia de Benny Reese, Reese's Vintage Pieces.
© The Metropolitan Museum of Art

Conjuntos de Virgil Abloh (americano, 1980-2021) para Louis Vuitton (francesa, fundada em 1854); coleção de homem outono/inverno 2021 (esquerda) e coleção de homem primavera/verão 2025 (direita); Cortesia Louis Vuitton.

Conjuntos de Virgil Abloh (americano, 1980-2021) para Louis Vuitton (francesa, fundada em 1854); coleção de homem outono/inverno 2021 (esquerda) e coleção de homem primavera/verão 2025 (direita); Cortesia Louis Vuitton.
© The Metropolitan Museum of Art

Conjunto “Maya Angelou Passport”, Foday Dumbuya (serra-leonês) para Labrum London (britânica, fundada em 2014), outono/inverno de 2023; Cortesia Labrum London.
© The Metropolitan Museum of Art

A exposição estará organizada pelas 12 características do dandismo negro, um princípio organizacional inspirado no essay de 1934 de Zora Neale Hurston, The Characteristics of Negro Expression. As diferentes partes da exposição contam a história da evolução do dândi negro ao longo dos anos, não só através do vestuário e acessórios, mas também de uma série de imagens que incluem desenhos, pinturas, fotografias e excertos de filmes. A primeira secção – Ownership – mostra a indumentária de uma pessoa escrava em Maryland durante o século XIX. Jook, uma das categorias originais de Hurston, relacionada com a música, a dança e o prazer, inclui um conjunto de fatos Zoot dos anos 40; enquanto Cosmopolitanism conta com peças assinadas por Pharrell Williams e pelo falecido Virgil Abloh para a coleção masculina da Louis Vuitton.

“Os designers contemporâneos que estão na exposição estão lá porque falam e utilizam a história que estamos a contar como parte das suas filosofias de design”, salientou Miller. Em alguns casos, têm também ascendência proveniente da África Ocidental ou das Caraíbas. “Tem sido bastante interessante ver as notas de Virgil Abloh e Grace Wales Bonner – são muito versados no tipo de temas que abordamos na exposição, [questões] relacionadas com a raça e o poder, com a imigração, escravatura, colónias e colonização, capacitação, alegria, estética”.

Bolton, por sua vez, acredita que o vestuário masculino está a atravessar por um período de renascimento. “Isso deve-se não só aos designers negros, mas também aos homens de estilo, como os co-presidentes masculinos da nossa Met Gala”. Este ano, os co-presidentes são Pharrell Williams, o ator Colman Domingo, o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton, o músico A$AP Rocky e Anna Wintour, com Lebron James – a estrela do basquetebol – como co-presidente honorário. “Todos eles são homens que não têm medo de correr riscos com a sua auto-expressão. Tiram partido das silhuetas clássicas, mas também as misturam e alteram de formas verdadeiramente novas”, afirmou Bolton. “Penso que os homens e os designers negros estão na vanguarda deste novo renascimento do vestuário masculino”.

Tal como em anos anteriores, a exposição irá reunir um grupo de colaboradores influentes, cada um dos quais contribui com elementos distintos: o artista Torkwase Dyson será responsável pelo design concetual da exposição; Tanda Francis, que cria máscaras africanas monumentais presentes em espaços públicos e privados, está a criar cabeças de manequim à medida que serão produzidas para exposição; e o artista Tyler Mitchell irá fotografar o catálogo.

Superfine: Tailoring Black Style será viabilizada pela Louis Vuitton, e por apoios do Instagram, da Hobson/Lucas Family Foundation, da Dra. Precious Moloi-Motsepe e Africa Fashion International, da Tyler Perry e da Condé Nast. A exposição irá decorrer de 10 de maio a 26 de outubro de 2025, após a Met Gala (que acontece a 5 de maio) e é a principal fonte de financiamento de todas as atividades do Costume Institute.

Esquerda: Ouro “L'E Goldwill”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984); Centro: colar “Name Spell Name Plate”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984); Direita: pendente “Kalinago Royal Coin #8”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984). Todos para L'Enchanteur (americana, fundada em 2017), 2023; Cortesia L'Enchanteur.
Esquerda: Ouro “L'E Goldwill”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984); Centro: colar “Name Spell Name Plate”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984); Direita: pendente “Kalinago Royal Coin #8”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984). Todos para L'Enchanteur (americana, fundada em 2017), 2023; Cortesia L'Enchanteur.

Esquerda: Ouro “L'E Goldwill”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984); Centro: colar “Name Spell Name Plate”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984); Direita: pendente “Kalinago Royal Coin #8”, Dynasty e Soull Ogun (americano, nascido em 1984). Todos para L'Enchanteur (americana, fundada em 2017), 2023; Cortesia L'Enchanteur.
© The Metropolitan Museum of Art

Traduzido do original, disponível aqui.

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