Portugal é um dos spots do momento para a cultura jovem digital e a moda, fundindo criatividade e inovação.
Quatro semanas antes da Web Summit de Lisboa, agendada para novembro e promovida como a maior conferência de tecnologia do mundo, e seis meses antes da Condé Nast International Luxury Conference, que irá decorrer na capital portuguesa em abril do próximo ano, o país mostrou a sua combinação imaginativa de poder digital e energia criativa na Semana da Moda de Lisboa.
Jardim Pavilhão Carlos Lopes © Suzy Menkes
Jardim Pavilhão Carlos Lopes © Suzy Menkes
Isto foi evidente não só nas roupas propriamente ditas, mas também na forma como se dirigem ao consumidor.
Alfredo Orobio e a equipa de crowdsourcing em permanente expansão da sua marca, Away To Mars, não se limitaram a apresentar a sua sexta coleção – que inclui um apelativo fato de calças verde metalizado, uma camisa com impressão digital e uma túnica azul-turquesa com efeitos em degradé, também demonstraram a sua abordagem diferente à distribuição.
“É uma marca cooperativa e o consumidor pode criar o seu próprio perfil no nosso website”, disse a designer Marilia Biasi. “As pessoas publicam as suas criações e as mais populares integram a nossa coleção. A coleção não é desenhada apenas por nós: inclui designs originais de 20 pessoas diferentes.”
Na AwayToMars.com, uma comunidade em permanente crescimento de designers e criadores escolhe os conceitos mais interessantes, que são posteriormente apresentados em ações de crowdfunding. As peças escolhidas são produzidas graças às pré-encomendas dos apoiantes/financiadores da marca e vendidas a preços de venda por atacado.
Na passerelle, em torno de uma piscina azul, a marca apresentou um macacão que deu os seus primeiros passos de design como um vestido – um dos vários exemplos de uma curadoria que faz as diferentes peças ganharem uma só voz como coleção.
A variedade parece ser o tempero de eleição da moda em Lisboa. Em três dias extremamente preenchidos, comecei a aprender mais sobre a arte e o estilo da moda portuguesa.
Alexandra Moura, que apresenta a sua roupa na Semana da Moda do Porto, um evento separado, mostrou-me os dois lados da sua visão: um trabalho manual delicado num casaco creme com bordados subtis e exclusivos e uma coleção de peças com linhas modernas e arcos elegantes, que apresentara previamente na Semana da Moda de Londres. Em ambas as extremidades do espectro, vislumbrei um fascínio pela história e por culturas distantes.
Fast Talks ModaLisboa © Suzy Menkes
Fast Talks ModaLisboa © Suzy Menkes
“Temos um posicionamento muito forte nas fábricas no que concerne a camisas e malhas, e tentamos sempre encontrar os melhores fornecedores”, disse-me a designer, explicando que embora o delicado efeito de tapeçaria fosse excecional, a maior parte do trabalho fora realizado no norte do país, perto de Espanha.
O meu objetivo em Lisboa – além de descobrir a dinâmica da moda no país – era comparecer no relançamento da Vogue Portugal. A diretora, Sofia Lucas, não só deu uma festa cheia de estilo num armazém abandonado na antiga zona industrial da cidade, como me fez uma visita guiada às suas lojas e designers preferidos.
Tudo isto, evidentemente, serviu para me preparar para a CNI Luxury Conference, que terá lugar em 2018. ‘A Língua do Luxo’ ocorrerá em Lisboa nos dias 18 e 19 de abril de 2018 e explorará igualmente as ligações contemporâneas entre Portugal e as suas antigas colónias, como Angola, Brasil e Moçambique, entre outras.
Avenida da Liberdade, Lisboa
Avenida da Liberdade, Lisboa
Há um século, a família real portuguesa, a Sereníssima Casa de Bragança, resplandecia no Pátio da Galé, local escolhido pela CNI para a conferência. Os angolanos, cujos antepassados foram em tempos subservientes em relação a Portugal, são atualmente os principais clientes a frequentar os passeios sombreados da Avenida da Liberdade, fazendo as suas compras em lojas de luxo como a Burberry, Gucci, Louis Vuitton e Ermenegildo Zegna.
Embora as marcas globais dominem o centro de Lisboa, descobri alguns designers locais e lojas originais escondidos entre os edifícios históricos revestidos a azulejos.
Lidija Kolovrat, nascida na Bósnia Herzegovina, apresentou o seu trabalho na Semana da Moda de Lisboa e tive oportunidade de ver outros dos seus tecidos coloridos e especialmente concebidos ao vivo e a cores na sua boutique. Durante a minha visita, algumas mulheres entraram na loja para comprar roupa e sapatos decorados à mão. Enquanto isso, a designer mostrou-me o seu estúdio, montado no piso superior, onde cria os seus têxteis.
Eu já assistira anteriormente, em Londres, a uma amostra das peças interessantes made in Porto – que detém o seu próprio evento de moda. O Portugal Fashion foi um evento aberto, organizado na Embaixada Portuguesa em Londres, e apresentou um cruzamento interessante de estilos, incluindo o calçado high-tech da Lemon Jelly e a intricada joalharia de Eugénia Campos. Os designs artísticos de Teresa Martins foram outro exemplo em que a imaginação foi melhorada pelo artesanato.
Provando quão globais os designers se tornaram, Pedro Pedro, da Portugal Fashion apresentou a sua coleção em Milão: um colorido conjunto de roupas desportivas que poderia combinar uma camisola azul celeste, verde e amarela com uma camisa rosa-flamingo. Para além de tons garridos, a sua excecional conceção da cor inclui também a subtileza de um top verde musgo com reflexos ou uma saia verde relva. A sua ganga clara com formatos interessantes provou que, além da cor, ele também domina o corte.
Ocupada com o planeamento da CNI Luxury Conference, não tive tempo para assistir a todos os desfiles da ModaLisboa, mas fiquei impressionada com os dez jovens designers incluídos na secção Sangue Novo, cujo vencedor foi David Pereira com a sua mistura de streetwear e tribal – um estilo Rick Owens com um espírito orgânico.
Também gostei do trabalho de Dino Alves, o qual com o seu historial em teatro e formação em cinema português, faz um uso dramático de efeitos geométricos e retalhos de tecido para criar cortes, riscas e fatos com ombros acentuados.
David Ferreira, o designer português que estudou na londrina Central Saint Martins College of Art & Design, regressou a Lisboa depois de trabalhar com Iris van Herpen, Giles Deacon e Meghan Kirchhoff. No cenário verdejante do Parque Eduardo VII, apresentou uma coleção de vestidos saída de um conto de fadas: o destaque vai para um vestido de aspeto régio com decote junto ao pescoço e saia armada e para os rostos cobertos por máscaras das modelos.
A alta qualidade do trabalho artesanal também marcou as tendas da ModaLisboa, onde Rita Sevilla demonstrou o seu conhecimento de tecelagem numa raquete de ténis antiga, entre outros trabalhos criativos e tecnicamente complexos. Igualmente merecedora de destaque na mesma área é Constance Entrudo, formada pela Central Saint Martins, que trabalhou com Peter Pilotto e a dupla portuguesa de designers Marques’Almeida.
A minha incursão relâmpago pela moda lisboeta incluiu a participação num debate das Fast Talks da ModaLisboa, com oradores e espectadores reunidos sob o telhado frondoso da Estufa Fria, no Parque Eduardo Vll. A conjunção da natureza com o amor pela moda sob os ramos e as folhas pareceu-me simbólica da singularidade que caracteriza a essência do estilo português.
Tradução © Erica Cunha Alves
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