Curiosidades  

To be continued | Welcome to Hollywood

13 Oct 2023
By Diego Armés

The Fame Issue

Esta é daquelas imagens que valem mais que mil palavras, porque Sophia Loren ficou mesmo sem palavras quando viu Jayne Mansfield aproximar-se da mesa naquele serão primaveril de 1957. “Is that balloons you got there? Or are you very happy to see me?” Podiam ter sido estes os pensamentos da estrela italiana, que parece espantada e intimidada. Mas nada disso se confirma: não só Loren não tinha motivos para se deixar intimidar, como Mansfield estava realmente feliz por vê-la.

É importante começar por deixar claro que Michael Romanoff nada tem a ver com o grão-duque Michael Alexandrovich da Rússia, também ele Romanoff, o último dos czares, o czar por um dia. Não só não são a mesma pessoa, como nem sequer tinham qualquer parentesco, ainda que remoto, por mais que este Michael Romanoff de que aqui se trata afirmasse ter ligações à família imperial russa. Esses mesmo, os Romanoff. A imprensa de Hollywood da altura sempre tratou essas alegações com bonomia, dando-lhes a importância que tinham, que era nenhuma, e espremendo delas o sumo possível, que era anedótico. Michael Romanoff nem sequer se chamava Michael Romanoff. Nascido Hershel Geguzin, em 1890, na Lituânia, adotou o nome artístico por que ficou conhecido quando se mudou de Brooklyn para Los Angeles em busca da fama e do estrelato. Foi ator, desempenhou quase 20 papéis no grande ecrã, embora não tenha sido creditado em todos. O sucesso de Michael Romanoff veio do cinema, sim, mas por outra via. Em 1941, inaugurou o Romanoff’s, restaurante em Rodeo Drive, Beverly Hills, onde todas as estrelas de cinema gostavam de se encontrar e de ser vistas.

Perceber quem foi Michael Romanoff não é fundamental para esta história, mas é uma curiosidade que ajuda conceber-lhe o cenário. É que foi precisamente nesse restaurante por onde desfilavam estrelas de cinema que a Paramount Pictures decidiu dar um jantar oficial de boas-vindas a Sophia Loren (1934). A belíssima atriz italiana vivia o seu apogeu na Europa – por exemplo: tinha sido a figura mais fotografada no Festival de Cinema de Cannes –, o que levou a que os estúdios de Hollywood a desejassem. No célebre jantar de boas-vindas estavam presentes, claro, algumas das mais badaladas, vistosas e proeminentes celebridades do star system hollywoodesco. Uma das estrelas mais cintilantes do firmamento cinematográfico era a voluptuosa e muito loura Jayne Mansfield (1933-1967), possivelmente a grande figura da época. Mansfield era a coqueluche da 20th Century Fox, que a apresentava como a nova blonde bombshell, a sucessora natural de Marylin Monroe. No ano anterior, Jayne Mansfield tinha dado nas vistas como protagonista da comédia musical The Girl Can’t Help It – ganhou o Globo de Ouro para Atriz Revelação –, onde mostrava alguns dos seus atributos. Pouco antes, em fevereiro de 1955, já havia mostrado esses mesmos atributos de uma maneira mais ampla e desafogada, quando foi Playmate do mês na revista Playboy.

Esta é foto que se tornou mais famosa de entre uma sequência em que se percebem mais detalhes e que permite algum contexto mais rigoroso para o que aconteceu. O que a imagem não conta, acrescentamos nós por palavras. O pomposo evento tinha como objetivo dar as boas-vindas a Sophia Loren, mas a bombshell loura não estava pelos ajustes e aceitou alinhar nessa espécie de homenagem à nova bombshell morena, sim, mas segundo as suas próprias condições. Antes de mais, sentar-se-ia ao lado da figura central da festa, que foi, até à chegada de Mansfield, a atriz italiana. É que a pin-up, sex-symbol dos anos 50, chegou obviamente atrasada à celebração. Jayne Mansfield fez uma entrada de estrela no Romanoff’s: depois da hora, como pertence, e quando todos já estavam sentados, dirigiu-se de imediato ao seu lugar, onde cumprimentou a homenageada. Sophia Loren, surpreendida e possivelmente impressionada, tirou, como boa latina que é, as medidas à famosa playmate. O exercício não era difícil, já que Mansfield levava um vestido muitíssimo leve, ultra decotado e sem costas, que usou, para cúmulo, sem soutien – o que faz com que, em certas fotos da sequência, dê a impressão de que há um mamilo indiscreto a espreitar de volta para Sophia Loren.

Esta imagem, sem contexto nem explicação, pode sugerir que a diva italiana estivesse a olhar de lado para a bombshell americana com uma ponta de inveja. Mas quem conhece Sophia Loren saberá que, ao nível dos atributos físicos, não fica a dever nada, nem a Jayne Mansfield, nem a ninguém. O olhar de Loren poderá, talvez e mais fielmente, ser traduzido por “mas o que é isto? Então, é assim que as pessoas se vestem por aqui?”. Ou, então, com um espírito crítico ainda mais conservador e afiado, “ora, vejam bem esta galdéria, que vem para aqui, para o meu jantar, seminua”. Nunca saberemos verdadeiramente que pensamentos cruzaram a mente de Sophia Loren por trás daquele olhar surpreso, mortífero e julgador. Para a história e para a posteridade, fica aquela mirada certeira para o decote de Jayne Mansfield.

Artigo integrado no The Fame Issue da Vogue Portugal, de outubro de 2023. For the English version, click here.

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