Que é como quem diz, “too much information.” O slang serve para abrir o debate, invísivel, e que há muito tentamos evitar, que paira sobre as nossas vidas, o nosso quotidiano, as nossas decisões: será que o excesso de informação está, lentamente, a matar a criatividade?
Que é como quem diz, “too much information.” O slang serve para abrir o debate, invísivel, e que há muito tentamos evitar, que paira sobre as nossas vidas, o nosso quotidiano, as nossas decisões: será que o excesso de informação está, lentamente, a matar a criatividade?
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“Isto é para os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os agitadores. Os que são pinos redondos em buracos quadrados. Os que que veem as coisas de forma diferente. Eles não gostam de regras. E não têm nenhum respeito pelo status quo. Podem citá-los, discordar deles, glorificá-los ou difamá-los. Mas a única coisa que não podem fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Eles empurram a raça humana para a frente. E enquanto alguns os veem como loucos, nós vemos génios. Porque as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que, de facto, o fazem.” Em 1997, a Apple Computer (atualmente Apple Inc.) lançou uma campanha chamada Think Different (em português “Pense Diferente”) que celebrava os feitos de uma série de personalidades, e de como esse feitos tinham mudado o mundo. A versão televisiva, com narração do ator Richard Dreyfuss, era um poderoso hino às conquistas de “loucos” como Einstein, Alfred Hitchcock, Pablo Picasso, Bob Dylan, Amelia Earhart, e uma série de outros nomes que inspiraram Steve Jobs (1955-2011), co-fundador da empresa. “A Apple é para pessoas não conformistas, que querem usar computadores para mudar o mundo”, afirmou aquando do lançamento dos anúncios. Think Different tornou-se um mantra, não só entre toda a comunidade criativa, mas em todo o universo dos que, de facto, pensam, e fazem, diferente.
Vinte anos depois, a premonição de Jobs confirmou-se: os computadores mudaram o mundo — os computadores, e as pessoas que os usam, mudaram tudo. É principalmente a partir deles que, diariamente, nos chega uma quantidade de informação astronómica, muito para lá do que somos capazes de processar: imagens, alertas de últimas hora, memes, notícias, reportagens, newsletters, emails, podcasts, a lista aumenta enquanto escrevemos estas linhas. Fazer algo novo, diferente, tornou-se quase impossível, porque: a) tudo parece já estar feito; b) ter tempo para fazer algo novo, diferente é um desafio, uma batalha, sendo que o oponente somos nós próprios, tantas são as horas “agarrados” a um ecrã, consumindo, sem darmos por isso, aquilo que outros já fizeram — aquilo que outros já criaram; c) estamos constantemente aborrecidos, enfadados, sedentos de “coisas novas”, e qualquer minuto de pausa é ocupado em busca de uma nova forma de entretenimento, de algo que nos proteja… de nós próprios e do nosso silêncio; d) procuramos validação em tudo o que nos é exterior, ao ponto de raramente sabermos filtrar o que é relevante do que é acessório; e) deixámos de saber sonhar, arriscar, tornámo-nos demasiado bem comportados, e nem nos apercebemos de que muitas vezes apenas repetimos padrões — padrões que sabemos ter resultados positivos — e esquecemo-nos de inovar.
Quando, por algum motivo, somos obrigados a parar, a refletir, a olhar, por exemplo, para uma folha em branco, não sabemos o que fazer. Há um sentimento de impotência que se apodera de nós, e parece-nos impossível criar. Ficamos bloqueados. Porque tudo à nossa volta nos consome. Em 2018, a leiloeira Christie’s vendeu uma pintura no valor de 432.500 libras. Até aqui nada de novo, esses são números banais no mercado da arte. Acontece que a obra, intitulada The Portrait of Edmond Belamy, foi realizada por um algoritmo. Por outras palavras, até a Inteligência Artificial, uma invenção do homem, o (nos) começa a suplantar no que a criatividade diz respeito. Há um velho ditado que diz “pense fora da caixa.” Mas neste momento — mais do que nunca — para se ser realmente disruptivo, original, provocador, é preciso rasgar a caixa, mandá-la fora, esquecê-la de uma vez por todas.