À medida que a luta para conter a pandemia continua, cada vez mais marcas com impacto na indústria estão a trabalhar para fornecer ajuda à comunidade médica global e às vítimas do vírus.
À medida que a luta para conter a pandemia continua, cada vez mais marcas com impacto na indústria estão a trabalhar para fornecer ajuda à comunidade médica global e às vítimas do vírus.
@donatella_versace
O mundo está virado do avesso. Nunca poderíamos ter imaginado que em 2020 a nossa liberdade seria condicionada desta forma tão drástica devido a um problema gravíssimo de saúde pública. Parece um episódio da série Black Mirror, mas este está mesmo a acontecer e, infelizmente, a solução não passa por mudar de canal. Há policiamento nas ruas de França e Itália e há multas para quem sair de casa por quaisquer motivos que não razões profissionais, aquisição de produtos de primeira necessidade, acesso a cuidados médicos, socorro e apoio a familiares e pessoas dependentes ou para passear animais ou praticar desportos individuais.
Entre os dias 17 de janeiro e 11 de março, o setor do luxo relatou uma queda de 23% e uma perda de cerca de 152 mil milhões de dólares em valor de mercado. Mas isso não impediu que alguns dos nomes mais importantes da indústria doassem milhões para ajudar as pessoas afetadas pelo novo coronavírus.
Donatella Versace e a sua filha Allegra doaram 200 mil euros ao departamento de terapia intensiva do hospital San Raffaele, na cidade de Milão, que pediu ajuda devido ao número descontrolado de pacientes em tratamento. "O nosso coração está com todos aqueles que foram afetados por esta doença e com todos os médicos e equipas médicas que têm trabalhado heroicamente e sem parar nas últimas semanas, esforçando-se ao máximo para salvar as nossas famílias", afirmou Donatella através da sua página de Instagram.
A designer italiana Elisabetta Franchi está a organizar uma campanha de angariação de fundos para apoiar hospitais italianos que estão, ou estarão em breve, a enfrentar dificuldades em lidar com a emergência da Covid-19. Com o mote #SEVUOIPUOI (em português, #SEQUISERPODE), a Elisabetta Franchi Foundation Onlus agirá de forma transparente e rápida no apoio às instalações e terapias intensivas dos hospitais italianos em estado de emergência. "Cada um de nós pode fazer alguma coisa, um pequeno gesto pode fazer uma diferença real", refere a designer, que foi a primeira a fazer um donativo.
Depois de ter doado o equivalente a cerca de 2 milhões de euros à Sociedade Cruz Vermelha na China, o grupo francês LVMH (detentor de marcas como Louis Vuitton, Celine, Marc Jacobs e Fenty) anunciou também que as suas fábricas, normalmente usadas para produzir perfumes e cosméticos, começarão a produzir "grandes quantidades" de desinfetantes à base de álcool; estes serão entregues gratuitamente às autoridades de saúde francesas. O anúncio ocorre devido a uma escassez global de desinfetante de mãos provocada pelo elevado número da procura.
Os co-CEOs da Prada, Miuccia Prada e Patrizio Bertelli, juntamente com o presidente da marca, Carlo Mazzi, doaram duas salas de reanimações e unidades de terapia intensiva completas a cada hospital em Milão. A Bulgari doou uma quantia não especificada ao departamento de pesquisa do Istituto Lazzaro Spallanzani localizado em Roma, cuja equipa médica foi uma das primeiras capazes de isolar o ADN do Covid-19. A doação permitiu ao departamento comprar um sistema de aquisição de imagens microscópicas que ajudará as equipas médicas a descobrir como prevenir e tratar o vírus.
Os designers Domenico Dolce e Stefano Gabbana anunciaram que a sua marca doaria uma soma para apoiar as pesquisas levadas a cabo por professores da Universidade Humanitas, em Itália, com o objetivo de encontrar soluções para ajudar a combater o vírus. Assim como a marca de calçado Sergio Rossi também fez uma doação de 100 mil euros aos hospitais Fatebenefratelli e Luigi Sacco, em Milão. Além disso, todo o lucro proveniente das vendas em sergiorossi.com será totalmente doado para combater o surto de Covid-19.
Na segunda feira dia 16 de março, a empresária e influenciadora digital Chiara Ferragni, que tinha lançado uma campanha GoFundMe.com com o marido nas redes sociais, já tinha conseguido juntar mais de 4 milhões de euros em doações provenientes de mais de 100 países, para reforçar as unidades de terapia intensiva de Milão e da sua cidade natal, Cremona. A plataforma digital americana que sediou esta iniciativa acabou por fazer também uma doação de 250 mil euros a vários hospitais italianos.
Giorgio Armani, Alibaba, L'Oréal, Estée Lauder Cos. Inc., Shiseido Co. Ltd. e Swarovski também estão entre as empresas que fizeram grandes doações para apoiar esta luta. De acordo com a WWD, a Estée Lauder planeia inclusive reabrir a sua fábrica localizada em Melville, Nova Iorque, para produzir desinfetante para as mãos destinado às equipas médicas. E o colosso do fast-fashion, Mango, doou 2 milhões de máscaras protetoras ao hospitais espanhois, que contam já com pelo menos 40 mil casos de infeção e são vários os que lidam com a escassez de material de protecção individual. O grupo H&M está também a produzir equipamento de protecção individual para distribuir gratuitamente por diversos hospitais em todo o mundo.
A indústria têxtil francesa, abalada violentamente pela pandemia, está a juntar esforços para começar a produzir máscaras de proteção. Segundo avançou dia 17 de março o jornal francês Le Figaro, os pioneiros da iniciativa são o Atelier Tuffery, especialista em produção de gangas, na região de Occitânia, e o Les Tissages, em Auvergne-Rhône-Alpes.
A marca C&A anunciou que vai distribuir 240,000 máscaras protetoras a vários hospitais em toda a Europa para ajudar a conter e prevenir a propagação do coronavírus e, por cá, com vista a apoiar a comunidade local na prevenção e combate à Covid-19, o designer Luis Onofre, em parceria técnica com o CTCP (Centro Tecnológico do Calçado de Portugal), comprometeu-se a produzir diariamente 500 máscaras de apoio, na sua fábrica em Oliveira de Azeméis, doadas depois a várias instituições do concelho de Oliveira de Azeméis e arredores, entre eles o Hospital de Santa Maria da Feira, Hospital de Famalicão, Centro Dial, Lar Geribranca, Lar Pinheiro da Bemposta, Lar Pró Outeiro e Cruz Vermelha. A portuguesa Parfois, por sua vez, colocou a sua poderosa voz a falar com os fornecedores da marca e a motivá-los no desenvolvimento de equipamento sanitário para entrega em hospitais - o número vai em 155 mil máscaras enviadas: "sabemos que não resolve a situação de escassez por que passam as unidades hospitalares, mas não deixa de ser um pequeno contributo que gostaríamos que fizesse a diferença", comunicam.
A Burberry anunciou que está a usar a sua rede global de cadeias de suprimentos para acelerar a entrega de 100.000 máscaras cirúrgicas ao Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, para uso das equipas médicas. Seguindo a mesma linha, a fábrica de gabardines em Yorkshire, servirá para produzir equipamento de proteção para os pacientes nos hospitais do Reino Unido. A Chanel também começará a produzir máscaras cirúrgicas, desta feita para os hospitais franceses.
A Ralph Lauren Corporate Foundation comprometeu-se a doar 10 milhões de dólares para ajudar as equipas, parceiros e comunidades afetadas pela nova pandemia de coronavírus.
É nas alturas de maior crise que se vê o impacto positivo das redes sociais e do sentido de comunidade. As pessoas cantam e batem palmas à janela, homenageiam constantemente os profissionais de saúde e disseminam mensagens de apoio e solidariedade para que os dias passados em casa tenham mais significado. Todos temos o poder de ajudar de alguma forma e, quando virmos a luz ao fundo do túnel, não nos esqueçamos de ajudar negócios locais que poderão ter sido afetados pela pandemia. Nunca fez tanto sentido usar o nosso poder individual em prol do bem comum.