Nos dias que correm, a arte de socializar não podia ser mais diferente do brunch semanal de Sex and the City, dos encontros diários (regados a café, discussão e gargalhadas) de Friends ou dos jantares caóticos de Girls. Em pleno distanciamento social, como é que mantemos vivo o sentimento de união?
Nos dias que correm, a arte de socializar não podia ser mais diferente do brunch semanal de Sex and the City, dos encontros diários (regados a café, discussão e gargalhadas) de Friends ou dos jantares caóticos de Girls. Em pleno distanciamento social, como é que mantemos vivo o sentimento de união?
©Getty Images
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Os restaurantes estão fechados, os bares estão trancados e as esplanadas estão encerradas. O cinema não tem espectadores, o teatro não tem plateia e a noite de jazz não tem palmas calorosas. As mensagens deixaram de ser encontros no sítio do costume, os telefonemas deixaram de ser convites para um jantar lá em casa e as notificações deixaram de nos avisar que o Uber está à nossa espera. A Netflix parece não ter fim à vista, o Instagram assemelha-se a um poço sem fundo e o Tinder só nos leva até certo ponto – e esse ponto não é assim tão longe. Na verdade, não é longe de todo. Podíamos go on and on sobre todas as formas como as normas de distanciamento social – o ato físico de mantermos uma distância de pelo menos dois metros relativamente a outras pessoas, de não nos reunirmos em grupos e de evitarmos as praticamente extintas multidões – vieram mudar por completo o modo como nos relacionamos com familiares, amigos, colegas e desconhecidos, mas imaginamos que este episódio de Black Mirror (perdão, esta nossa nova realidade) não precisa de grandes introduções.
Afinal de contas, muitos de nós estão a viver há mais de um mês neste guião escrito por Quentin Tarantino (quando o realizador disse que o seu décimo filme poderia ser de terror, não era bem isto que tínhamos em mente), e há quem acredite que a história está longe de acabar – de acordo com um estudo conduzido por um grupo de investigadores da Harvard T.H. Chan School of Public Health, publicado na revista científica Science a 14 de abril, um único esforço de distanciamento social não será suficiente para controlar a pandemia e os picos secundários do vírus podem ser mais acentuados se não forem impostas restrições contínuas. “O distanciamento intermitente pode ser necessário até 2022, a menos que a capacidade dos cuidados intensivos seja substancialmente aumentada ou um tratamento ou vacina esteja disponível”, defendem os autores. Esta ideia de um distanciamento prolongado, ainda que com uma espécie de switch para ligar e desligar as restrições, cria um cenário um tanto assustador nas nossas cabeças e levanta uma série de questões a nível social, económico e educacional. Isso e a avalanche de perguntas: O que é que tudo isto significa para a arte de socializar, para o contacto cara a cara, para o encontro frente a frente? Mais do que isso, como é que mantemos a união quando estamos fisicamente separados? Como é que mantemos o sentido de comunidade quando não podemos estar fisicamente juntos?
2020: Odisseia na Internet
As obras distópicas podem ter pintado a tecnologia como o pior inimigo da humanidade, mas a realidade sem precedentes que atualmente vivemos parece contar uma história bastante diferente. À parte das centenas de vídeos que diariamente se espalham pelas redes sociais como uma gigante vaga de calor humano – os amigos que construíram uma mesa para unir as suas varandas e poderem partilhar refeições, beber vinho e jogar às cartas, os vizinhos que fazem flash mobs à janela para cantarem e tocarem instrumentos musicais em uníssono, e as pessoas que aproveitam os seus pátios para jogar ténis entre prédios –, a resposta pode estar numa solução mais digital. E os números parecem confirmar uma tendência crescente.
De acordo com a Cloudflare, uma empresa americana que fornece serviços web, o tráfego de Internet em Itália, particularmente no norte do país, aumentou mais de 30% desde o confinamento obrigatório. Do outro lado do oceano, e partindo dos dados de duas empresas de data, o The New York Times publicou uma análise extensiva sobre o modo como “os norte-americanos têm passado mais tempo online” devido ao surto do novo coronavírus. “Apesar das plataformas tradicionais de social media estarem a crescer, parece que todos nós queremos mais do que um contacto por mensagem ou texto – queremos ver-nos uns aos outros”, podia ler-se no artigo publicado no dia 7 de abril.
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