Das máscaras de ski na Gucci aos formatos tipo inseto na Prada e às lentes refletoras na Dior, os óculos de sol têm marcado uma posição clara nos principais desfiles. A Vogue explora a história deste acessório, que evoluiu de um papel secundário a personagem principal no mundo da Moda.
Das máscaras de ski na Gucci aos formatos tipo inseto na Prada e às lentes refletoras na Dior, os óculos de sol têm marcado uma posição clara nos principais desfiles. A Vogue explora a história deste acessório, que evoluiu de um papel secundário a personagem principal no mundo da Moda.
©Getty Images; Movie Still; D.R.; ImaxTree
Karl Lagerfeld usava-os em preto, Jackie Kennedy não dispensava um modelo oversized, Audrey Hepburn era fiel aos Manhattans, Elton John permanece um adepto dos estilos mais excêntricos e extravagantes, e Tom Hiddleston e Tilda Swinton não largaram os seus Wayfarers no filme de 2013, Only Lovers Left Alive. Moral da história? Quando o tema é óculos de sol, cada um de nós tem uma forma particular de os usar – e o acessório nascido nos anos 20 é tão sinónimo de celebridades e Cinema como de raios de sol. Nos últimos tempos, contudo, os óculos de sol têm vindo a experienciar uma renovação no seu design, com uma presença forte nos principais desfiles de primavera/verão 2019, e o seu papel passou de secundário a principal.
Das passerelles aos retalho
Nos desfiles de Gucci e Loewe, os óculos de sol disfarçaram-se de máscaras de ski, enquanto a passerelle de Courrèges ofereceu uma interpretação mais fina, com uma estrutura ousada; Prada apostou em óculos que lembravam os olhos de um inseto, Balenciaga experimentou com estilos mais divertidos e oversized, e Dior foi pelo caminho das lentes refletoras. E na estreia da nova Celine, quase todos os looks foram acompanhados por um par de óculos de sol para sublinhar o crescente fator cool.
“O design evoluiu de ofertas tradicionais como os clássicos aviadores em metal e os modelos em acetato para peças statement que expressam individualidade”, diz Gary Bott, diretor da Gentle Monster. Desde o seu lançamento em 2011, a marca coreana tem vindo a ganhar terreno graças ao seu espírito experimental com coleções de assinatura, como a bestselling Flatba, onde as lentes são colocadas por cima da armação, e não no interior, para criar uma estética plana e simples.
“Nós experimentamos não só com o design do produto, mas também com o design de interiores”, explica Bott, fazendo referência à propensão da marca para criar conceitos de retalho únicos. O que, por sua vez, pode ajudar a explicar o porquê dos óculos de sol terem um design cada vez mais detalhado e marcarem, mais do que nunca, uma posição.
Basta olharmos para as coleções de outono/inverno para percebermos que esta tendência não tem qualquer intenção de abrandar: se, por um lado, os óculos de sol estão a transformar-se em viseiras na Gucci, por outro, também estão a assumir formatos mais finos e retangulares, com um espírito retro, na Louis Vuitton – aliás, na coleção Cruise 2020 da marca, as lentes foram reimaginadas com tons de pedras preciosas e formatos que lembram aqueles dos óculos de segurança usados pelos aviadores, conjugados com uma touca estilo capacete.
O acessório do momento
A beleza de tudo isto está, claro, no facto dos óculos de sol conseguirem transformar, rápida e completamente, a nossa aparência. O fascínio está no styling – algo que, em 2019, parece fazer todo o sentido, tendo em conta que a nossa atenção está focada naquilo que usamos e no aspeto que aparentamos ter em ecrãs digitais, com o fator aspiracional das redes sociais a superar o de Hollywood.
Posto isto, não é surpreendente que os óculos de sol sejam o terceiro acessório mais pesquisado no Net-A-Porter, com Balenciaga e a sua estética super-designed a liderarem o caminho, e a nova marca Anna-Karin Karlsson, com os seus formatos altamente estilizados com cristais, a alcançar um patamar igualmente positivo. A plataforma tem planos para satisfazer ainda mais a obsessão ótica dos seus consumidores, com o lançamento de Kaleos, uma marca instagramável com sede em Barcelona – pense em formas pronunciadas, que não vão passar despercebidas -, e a apresentação da primeira linha de óculos de sol da Zimmermann, uma marca maioritariamente conhecida pela sua oferta de swimwear.
A origem
Historicamente, a existência dos óculos de sol data ao tempo da Roma Antiga onde, supostamente, o Imperador Nero assistia aos desportos praticados pelos gladiadores através de uma esmeralda, de forma a proteger os seus olhos da luz. Acredita-se também que os Inuítes usavam óculos para a neve, construídos com pedaços de madeira ou ossos, com uma pequena ranhura à frente, para os proteger contra a cegueira causada pela reflexão da luz na neve. Apesar destas possíveis origens, o primeiro par de óculos com lentes escuras foi produzido em 1885, enquanto a produção em massa data a 1929, cortesia de Sam Foster, o fundador da marca norte-americana Foster Grant. Alguns anos depois, mais precisamente em 1936, Edwin H. Land introduziu uma versão polarizada.
O agora
Desde então, cada década teve o seu estilo de assinatura, dos cat-eye nos anos 50 aos formatos divertidos dos anos 80. O cunho dos 2010, cujo fim se aproxima? Óculos de sol que mostram a evolução, ou antes a revolução, dos formatos existentes até à data. Óculos de proteção, viseiras e máscaras estão entre os estilos mais retrospetivos e avant-garde, enquanto o espetro oposto oferece interpretações de dimensões pequeníssimas, sci-fi e futuristas. Nos dias que correm, os óculos de sol deixaram de ser um acessório prático e cool, transformando-se numa tomada de posição plena de individualidade e intenção.