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Porque é que Sharon Tate (também) devia ser lembrada como um ícone de estilo

21 May 2019
By Rosalind Jana

Com a estreia do novo filme de Quentin Tarantino, Era Uma Vez...Em Hollywood para breve, olhamos para o incontestável, mas habitualmente ignorado, legado de estilo de Sharon Tate.

Com a estreia do novo filme de Quentin Tarantino, Era Uma Vez...Em Hollywood, para breve, olhamos para o incontestável, mas habitualmente ignorado, legado de estilo de Sharon Tate.

© Getty Images.

A expressão “ícone de estilo dos anos 60” traz-nos muitos nomes à memória: Twiggy, Jean Shrimpton, Jane Birkin, Anita Pallenberg, The Supremes, Marianne Faithfull, Brigitte Bardot, Cher... Um vasto leque de mulheres que popularizaram inúmeras tendências que ainda hoje usamos: desde as botas de cano alto, às malhas com riscas, sem esquecer os metalizados de inspiração espacial. Mas outro nome aparece ocasionalmente associado à década: Sharon Tate. 

Infelizmente, o foco da sua história centra-se sobretudo no seu homicídio, perpetrado pela “Família” Manson. Em agosto de 1969, a atriz de 26 anos, grávida de oito meses e meio, foi assassinada, juntamente com quatro amigos, por quatro membros do grupo de Charles Manson, em sua casa, em Los Angeles, onde vivia com o realizador Roman Polanski. Um evento atroz, que Joan Didion descreveu como o fim dos anos 60 – com o otimismo da década a dar lugar a um ato de maldade, formado por uma combinação perturbadora de paranoia, medo, drogas, racismo, misoginia, manipulação e cultura de celebridades.

50 anos depois, os homicídios Tate-LaBianca (o lojista Leno LaBianca e a sua mulher, Rosemary, foram assassinados na noite seguinte) e as circunstâncias que os rodeiam continuam a ser alvo de interesse. Do romance de Emma Cline, As Raparigas (um relato ficcional de uma das jovens raparigas do culto), ao aguardado filme de Quentin Tarantino, Once Upon a Time in Hollywood (com Margot Robbie no papel de Sharon Tate), a episódios de podcasts ou a longos artigos de análise sobre o posição que Manson ainda ocupa no imaginário cultural americano, é óbvio que o interesse do público por esta história de horror não mostra sinais de esmorecer.

No entanto, por muito que o complexo de Deus de Manson e a sua capacidade de convencer jovens mulheres a fazerem coisas impensáveis possam ser fascinantes, Sharon Tate acaba por se tornar numa nota de rodapé na história – reduzida, como muitas das vítimas femininas de crimes, a um estatuto de dano colateral em narrativas mais preocupadas com os homicidas do que com as vítimas. 

Felizmente, nos anos recentes, o legado da atriz tem sido lentamente revisitado – com Tate a tornar-se numa referência cultural e visual para uma nova geração. E como a sua irmã, Debra Tate, escreveu na introdução do livro Sharon Tate: Recollection, uma antologia de fotos da atriz: “Sempre senti que era muito injusto que a sua vida fosse sobretudo lembrada pelos seus momentos finais. A Sharon teve uma vida incrível.”

Durante essa vida demasiado curta, Tate, mais conhecida pelo seu papel no filme de 1967 O Vale das Bonecas, ajudou a definir o estado de espírito de uma década de mudança e foi inspiração para designers, fotógrafos e realizadores. O seu estilo combinava elementos da estética Mod e da onda hippie com a descontração do pragmatismo (por exemplo, Tate adorava a simplicidade de uma t-shirt e de um par de jeans). Quanto a designers, a atriz usava com frequência peças criadas por nomes incontornáveis da década como Ossie Clark e Thea Porter.

E é impossível não ser hipnotizado pelas suas fotos: há a do dia do seu casamento com Polanski, com um vestido curto em seda moiré e outra em que fita a câmara, vestida com uma blusa azul com o seu cabelo loiro ondulado, a emoldurar-lhe o rosto, em todas, os olhos destacam-se sempre marcados pelo seu característico eyeliner preto. Um look que inspirou o de Megan Draper em Mad Men (a diretora de guarda-roupa da série, Janie Bryant chegou a vestir deliberadamente Megan com uma t-shirt exatamente igual a uma usada por Tate) e que continua a ecoar na estética das celebridades dos nossos dias, Lana Del Rey incluída.

O estilo de Tate tem sido também homenageado nas passerelles – dos vestidos delicados e transparentes, à maquilhagem e ao cabelo armado, que marcaram a coleção de primavera/verão 2011 de Julien Macdonald à coleção resort 2017 da Moschino, inspirada pela cena psicadélica de Los Angeles nos anos 60. Aliás, em entrevistas posteriores à apresentação da coleção, Jeremy Scott (diretor criativo da marca italiana) evocou tanto o livro como o filme d’O Vale das Bonecas como inspiração. O estilo de Tate também está na coleção de tons pastel da Miu Miu para o outono/inverno 2010 e nas coleções da Valentino e da Gucci para a temporada outono/inverno 2014, com ambas a incluírem minivestidos brilhantes e casacos cintados. Da mesma forma, podemos argumentar que está nas mangas volumosas e colarinhos com folhos que têm definido a estética da marca nova-iorquina Batsheva.

No final do ano passado, uma série de peças pessoais de Tate foram expostas no Museum of Style Icons, na Irlanda, antes de serem leiloadas, pela Julien, em Hollywood. Peças de roupa que haviam sido guardadas e armazenadas pela sua irmã durante décadas – de vestidos Dior a casacos, incluindo até conjuntos de pestanas falsas – viram mais uma vez a luz do dia. Eram os pertences de uma mulher com a vida toda pela frente, recordações de um outro tempo. E ainda que seja discutível se este leilão serviu para amplificar o valor que dedicamos à vida e estilo da atriz, ou se apenas providenciou mais uma oportunidade para que os entusiastas de crimes se pudessem aproximar de uma tragédia antiga, não é discutível que Tate tinha uma presença arrebatadora, que merece ser celebrada e que não pode ser reduzida apenas à sua morte.

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